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Um ensaio sobre Tolkien e Miyazaki, ou “A Beleza das Coisas em Si"

Anwel

Nazgûl Cavaleiro
Faz tanto tempo que não crio um tópico aqui no fórum, mas dessa vez não me contive.
Já estava matutando essa idéia faz tempo, e o tópico acabou surgindo depois que eu assisti “Meu Vizinho Totoro” de Hayao Miyazaki. Sou fã incondicional do Studio Ghibli, e admiro muito a linguagem, ou, como costume dizer, a poesia do estúdio. Os filmes de Miyazaki possuem uma fantasia leve, recheada de elementos da cultura oriental, usualmente retratando o universo infantil à partir duma figura feminina.

Pois bem, vou ser um pouco audacioso aqui e correlacionar as obras de Tolkien e Miyazaki. Espero que gostem!

Há uma beleza singela que permeia as obras do Studio Ghibli, e confesso que fico extasiado quando vejo o jardim de Howl, os espíritos da floresta da Princesa Mononoke e a magia de Haru. Eu realmente sou transportado para esse mundo fantástico.

Pois bem, depois de assistir Totoro , comecei a refletir sobre os elementos da filmografia do estúdio. O que me cativa tanto nessas obras?

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To-toro, to-torooooo…



Foi daí que lembrei de outra paixão minha: o universo de Tolkien, e passei a entender melhor essa minha admiração. A fantasia dos dois autores são ricas em detalhes, “coloridas e vivas”, em todos os sentidos.

Mas o que isso significa?

Elas possuem A Beleza das Coisas em Si.

Kant dizia que os humanos não conseguem compreender as coisas em si, pois elas são inerentes à elas mesmas, não sendo passíveis de experimentação.

Pois bem, vou ser “topetudo” e contradizer o filósofo alemão com uma passagem de Tolkien:

“Os outros se jogaram na relva cheirosa, mas Frodo (…) tinha a impressão de ter atravessado uma janela alta que dava para um mundo desaparecido. Havia uma luz sobre esse mundo que não podia ser descrita na língua dele. Tudo o que via parecia harmonioso, mas as formas pareciam novas, como se tivesse sido concebidas e desenhadas no momento em que tiraram a venda dos olhos, e ao mesmo tempo antigas, como se tivessem existido desde sempre. Frodo não viu cores diferentes das que conhecia, dourado e branco e azul e verde, mas eram novas e pungentes, como se naquele mesmo momento as tivesse percebido pela primeira vez, dando-lhes nomes novos e maravilhosos. Naquela região, no inverno, ninguém podia sentir saudade do verão ou da primavera. Não se podia ver qualquer defeito ou doença ou deformidade em cada uma das coisas que cresciam sobre a terra. Não havia manchas na terra de Lórien”.

Com todo esse maravilhamento, Sam diz a Frodo: “Sinto-me como se estivesse dentro de uma canção”.

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Lórien, por Ted Nasmith

Olha só que incrível esse trecho do Senhor dos Anéis (páginas 372 e 373 da Sociedade do Anel, se alguém quiser conferir).
Não há nada de sobrenatural na terra de Lórien. Não há animais fantásticos e nem flores que brilham no escuro.
Mas há formas harmoniosas, cores vivas e uma beleza sutil. Simples e sutil – a beleza das coisas em si.

Mais do que o enredo, mais do que os protagonistas, mais do que a trama política… os autores conseguem retratar a beleza das coisas simples, transformando o cenário e o mundo ao redor em próprios personagens.

O Castelo Animado e o Condado podem ser vistos como um monte de sucata ambulante e uma área rural repleta de caipiras de pés peludos para os homens grandes, mas no universo de Tolkien e Miyazaki, esses lugares são mágicos.

É claro que precisamos enxergar o mundo através das lentes certas para apreciar essa beleza.
E é por isso que temos pequenos protagonistas nas histórias dos dois autores: crianças e hobbits, seres que não deixaram de apreciar a magia ao seu redor, mesmo que ela esteja em coisas singelas.

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Condado, por John Howe

Outra passagem que normalmente passa despercebida para os leitores de Tolkien e que eu adoro, é o coração partido de Sam ao se separar do seu equipamento de cozinha (em Mordor!!!). Era o elo que ligava o jovem hobbit à sua vida passada, à sua casa, à sua vida de jardineiro e servente.

Como não ficar tocado com estas cenas?

Miyazaki e Tolkien ensinam uma lição preciosa para os RPGistas: “Sinto-me como se estivesse dentro de uma canção”.

Na minha opinião não há elogio maior para um Mestre do que ouvir isso dos seus jogadores.

Cada vez que eu jogo O Um Anel com meus amigos, sinto como se estivesse dentro de uma canção, e juro que só Eru sabe como quero experimentar o Golden Sky Stories.

Sei que muitos preferem as tramas políticas de Game of Thrones (é, eu também curto muito elas) e a magia nada sutil de D&D (tem gosto pra tudo nesse mundo), mas tenho certeza que algumas crianças por aí apreciam essa poesia sutil, mesmo que essas “crianças” tenham mais de 60 anos, como diria Terry Pratchett.

Para concluir, recomendo um tópico muito bem escrito pelo Gerbur aqui na Valinor: A Magia das Coisas em Si. E, por último mas não menos importante, gostaria de mencionar a Arringa Hríve, a quem prometi esse post há muito tempo e acabei demorando mais do que deveria para extraí-lo da minha cabeça. Torço para que a espera tenha valido a pena!

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Post original:

Aventurando-se
 
Vale deixar um link que eu havia indicado de um site ao Heberus sobre análises do significado das escolhas nas paletas de cores nas animações da Disney e Ghibli. (esse site é legal porque é de antes de ter essa moda de separar episódios de séries por cores)

http://colorfulanimationexpressions.blogspot.fi/

Comenta-se na net que um dos poucos candidatos atuais capazes de assumir um possível futuro posto de Miyazaki seria o Makoto Shinkai.

Isso porque ele descreve com respeito, sabendo separar o que é ordinário do que é extraordinário (que é um dos sentidos da palavra sobrenatural ou supernatureza).

Essa incapacidade de separar na obra os elementos ordinários e extraordinários foi apontada outro dia pelo anomalista Michael Swords (pseudônimo) quando recebeu a visita de uma equipe do History Channel.

A matéria do History seria sobre um caso de ufologia em que o professor possuía arquivado imagens de radar do caso obtidas após telefonar em Washington para que o NOAA central desse permissão para que os operadores locais desenhassem o que tinham detectado diante de um membro representante da sociedade civil. Então, o operador da época, desenhou passo a passo o evento extraordinário nos formulários padronizados do governo e entregou os documentos para o anomalista, mantendo uma cópia consigo para enviar a Washington aos superiores por meio de relatório.

Então, durante a visita do History Channel, o anomalista (na qualidade de consultor) pediu para a equipe ir entrevistar as pessoas que ainda moravam na região desde aquela época porque eles poderiam fazer a comparação e confirmar a veracidade da imagem com as testemunhas independentes. Então o que foi que os caras da TV fizeram...

Os “gênios da TV” foram até o NOAA perguntar se a imagem de radar era verdadeira, sendo que o FOIAA anos depois já havia liberado documentos secretos do governo contendo as mesmas imagens entregues ao anomalista na época (ele tinha baixado os arquivos liberados e comparou com as antigas folhas). Quer dizer, é óbvio que as imagens eram autênticas e iriam bater!

Resultado, os caras do History Channel perderam a chance de respeitar o assunto extraordinário da maneira séria e correta a troco de nada(ibope) contribuindo para uma geração de críticos de sofá. Pior, eles saíram pensando que descobriram algo novo quando já era óbvio para o anomalista, para o governo e para as testemunhas. Aonde nós vimos esse tratamento rasteiro da mãe natureza em canal fechado (cof, cof, Caçadores de Mitos). Por sinal as imagens de radar estão ainda no blog dele (a casa ele arrumou depois que os caras da TV deixaram um monte de lixo de comida em cima de arquivos históricos com coleções do século 19 e 20 e armários pesados todos fora do lugar).

Pra ficar melhor a analogia... Imagina o Bilbo, com seus documentos extraordinários e sabendo o que ele sabe, lidando com gente não civilizada da TV e da internet.

Com esse grau de “civilidade” espera-se programas e séries com temas superficiais de forma grosseira produzidos por quem tem preguiça de pensar e preferem fomentar o mau gosto ou piadinhas de boteco sobre temas reais. E dá-lhe batalhas aborrecidas entre adolescentes da moda...

Digno de nota é que Miyazaki critica de forma firme a atual geração que deixou de olhar as coisas e as pessoas para poderem olhar para telas e softwares. A geração que ele vê tem dificuldade de ir além do agora para descobrir a razão de algo ser realmente bonito porque a beleza que enxergam lhes vem de forma indireta.

É o mesmo tipo de alienação de Frodo quando entrou em Lórien (um choque). Os homens já viviam praticamente como cães que não enxergam todas as cores do mundo (os olhos dos elfos são melhores), mas mesmo com a limitação dos atani a beleza estava tão reforçada, preservada e mantida que nos olhos dispersos dos homens também ganhava qualidade com relação ao mundo manchado de fora.

Bom, uns meses atrás pensei na aparição da pedra Arken, do último filme do Hobbit, e fiquei com vontade de atualizar o tópico do design. No que espero postar um pouco também no tema da magia e da beleza, então mãos a obra.
 
Nossa Neo, que irado esse site sobre as cores nas animações!
Caramba, é surpreendente ter (literalmente) tantas camadas de significados na arte.

Ordinário/Extraordinário é uma ótima separação também.
Ótimos pensamentos, vou ficar espero pra ler suas ponderações sobre design e a magia e beleza.
 
Coisa linda você fazer essa comparação...
Não sou uma fã antiga de Hayao Miyazaki, mas cheguei a assistir três produções dele ano passado e com certeza pretendo assistir mais! Me apaixonei completamente por Ponyo... Todos os cenários, a simplicidade que essas produções incríveis passam... Concordo plenamente com o que disse Chico, inclusive andei refletindo sobre o que achava que tão atraente nas obras de Tolkien ou em qualquer outra que me encanta, é justamente essa ideia de um mundo onde como você mesmo disse.. Onde a apreciação está nas coisas singelas :-)
 
Só posso dizer que nenhum tempo é perdido com animações Ghibli, principalmente sendo elas do grande Hayao Miyazaki.

Super indico, a quem estiver começando, assistir: Mononoke Hime, As aventuras de Chihiro, Ponyo a Beira-Mar, O castelo animado, Susurros do Coração, e não menos importante, Nausicaä Princesa do Vale do Vento (meu preferido).

São um gostinho do começo, estão dentre as melhores animações do Studio, ainda há muitas, mas garanto que cada uma conquista a seu modo. :yep:
 
Um escritor que gosto muito é Alan Moore, em uma entrevista ele diz que não gosta sair de sua cidade natal e que quando escreve, viaja para muitos lugares. Talvez seja um exemplo de um homem que enxerga essa beleza, no caso dele, na escrita, e que com papel e lápis (ou um computador) ele consegue estar em um lugar onde nunca esteve fisicamente.
Assim como Gimli, quando pediu um fio do cabelo dourado de Galadriel, também podemos enxergar beleza nas pequenas coisas.
 

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