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[Fëauryg Felagund] [Morlindalë] [L]

Morlindalë

ou A canção Iluminada das Trevas

pelo

O Um Anel



O primeiro Pergaminho

Melkor para Sauron

Um redemoinho: impregnando a si sobre aquela coisa que iria se tornar meu corpo, antes que ele se tornou consciente que aquilo era estranho àquele movimento. De onde aquela coisa veio, sobre quais momentos ou dimensões foi criado – isso permanece obscuro. Porém daquele momento em diante, o ser que foi chamado Melkor estava já formado, e finalmente veio a conhecer a si mesmo – eu mesmo. E então, enquanto eu vim a ser, eu percebi levemente, ao redor de, outro redemoinho de coisas que também estavam vindo a ser, porém eu não sabia o que elas, ou eu, eram. De fato nós não tínhamos forma como você possa entendê-las. Nós éramos corpos de energia, de luminescência.

Alcançando todos nós, e nos conectando de alguma forma, estava aquilo que foi chamado de Eru Ilúvatar, embora ele também não tivesse forma alguma. Foi ele quem falou conosco juntos, então nos pareceu nosso criador por aquela razão, embora mais tarde talvez possamos imaginar se o inverso não foi a verdade – que Eru Ilúvatar era de fato a simultânea, coletiva criação de nossas vontade nascentes, além de nossas distintas consciências.

Finalmente, nós viemos a ser os Ainur, percebendo e fluindo entre um e outro em ondas harmoniosas, o que no Ainundalë você leu como música. Porém não era música como conhecida normalmente. Era tremendamente mais etéreo para isso. Era como nós nos estendíamos uns aos outros, conhecíamos a nós mesmos em sermos parecidos em substância e energia, mas ainda assim diferentes em algum sentido.

E dentro do universo em que nos encontramos a existir, nós vimos também lá haver uma balança e simetria, e nisso também enxergamos o poder e a consciência de Eru Ilúvatar. Isso parecia dar coesão a todos nós e harmonia à nossa música: uma medida suprema, à qual nós conhecemos maravilhados e veneramos.

E então: a dor – tão repentina, tão envolvente que até mesmo agora eu não posso afastar minha mente totalmente disso. Eu tive medo que, de fato, estivesse sendo destruído, pois isso veio a mim, cortou o redemoinho, penetrou no mais profundo centro daquilo que era Melkor e o mudou. Porém eu não fui destruído, de fato nada em aparência mudou em nenhum aspecto que se podia perceber. Mas para minha surpresa e horror eu não podia mais cantar com a balança do universo, com Eru Ilúvatar. Minha voz, meu ser tendo sido tocado em solidão e desespero em frente a Ele, em frente aos outros Ainur, ao invés de adicionar isso à sua majestade e harmonia, agora parecia apenas surpreender, chocar, e machucá-los e, através de todos eles, Eru Ilúvatar a si mesmo.

Pode você, Sauron, começar a imaginar quão amedrontador isso podia ser: de repente, inexplicavelmente ter todo o universo em oposição a você? Estar cercado por todo lado por sua vastidão, sua perfeição, sua música, e ainda assim ser repelido por esses, de fato senti-los doentios e ser pressionado por sua presença. Eu me virei e fugi para os mais negros espaços da não-existência, buscando conforto para esse terror e dor, ou pelo menos a escuridão para anestesiar minha sensação deles.

Quanto tempo eu permaneci lá eu não posso saber, nem tem o tempo algum sentido no não-universo. Porém para meu grande terror, tão profundo quanto minha tristeza, tão lancinante quanto minha dor, ainda havia minha necessidade de existir, de ter Vontade, e de extender a mim mesmo. Então eventualmente retornei – retornei para encontrar que em minha ausência os outros Ainur tinham, fosse por sua decisão ou pela de Eru Ilúvatar, criado um lugar para si mesmos, no qual viver e tomar forma física. Aquilo viria a ser Arda, esse pequeno mundo.

Eu me aproximei dele, e então eu vi e me maravilhei. Era um globo de azul e verde e castanho escuro, coberto por faixas de brancura, e em todo lugar isso me parecia algo de uma beleza inacreditável. Por cima e por volta disso eu voei, fascinado pelas montanhas, mares, florestas, rios, campos, e as muitas bestas e coisas que cresciam por elas.

Finalmente eu cheguei ao um lago no próprio centro desse mundo, e entre o lago uma ilha de magnificência assombrante, e então lá eu vi meus irmãos Ainur. Para tocar esse novo mundo eles tinham, então, fabricado formas para si mesmos, também estranhas e belas. À sua frente eu me curvei, tão sobrepujado por essa aparente genialidade deles que a dor ainda correndo por mim diminuiu pelo mero prazer de tal companhia.

Um por um, eu os vi e os reconheci nas formas que haviam criado para si próprios. Somente alguns deles tem importância para meu conto:

Havia Manwë, quem eu lembrei estar quase-formado ao meu lado no Início. Os ares desse estranho novo mundo dançavam ao redor dele, iluminando seu corpo com o toque de jóias de nuvens, e entre ele havia exóticas e maravilhosas criaturas aladas.

Havia Ulmo, cuja forma corria e cascateava, cobertas em cores profundas. As muitas águas de Arda, eu aprendi, eram seu domínio especial.

Havia Aulë, o qual parecia como a própria pedra e terra de Arda em si mesma. Como Ulmo com os oceanos e rios desse mundo, Aulë se preocupava com a forma de suas terras. Ele estava acompanhado pela Valië Yavanna, a quem atendia tudo o que crescia nessas terras. Havia Námo, negro e silencioso, quem estaria preocupado com o destino e morte de todas as raças de Arda menos uma. Ele estava acompanhado por Vairë, que previa, media e lembrava-se desses destinos.

Havia Irmo, aquele que buscava sonhos e visões, artista de jardins maravilhosos.
Havia Tulkas, que se deliciava em destruição e guerra. Sua visão eu não irei aqui descrever.

E havia Oromë, que tinha prazer em matar aquelas das mais fracas e desprotegidas criaturas em Arda.


E de suas muitas peregrinações, que notei que cada uma era para uma parte do mundo, eles todos pararam como se chamados, viraram-se e pareceram me ver, ainda que eu não havia ainda presumido ou mesmo imaginado em tomar forma como eles. De fato minha fascinação por Arda não era possível ainda de se ver, e ainda assim, estava lá para todos os Valar. Eles me rodearam, e a harmonia de sua música moveu-se sobre mim, e formou palavras a mim. E disseram, “Melkor, porque é que você vem a nós, para essa Arda que nós fabricamos?”

Nunca antes eu havia falado, ou imaginado um discurso desses, e demorou até que eu tivesse idéia do que iria responder, e fazendo-o, eu gradualmente comecei a imaginar uma forma física para que o pudesse fazê-lo. Ao contrário deles, a minha era uma mera imagem que fluía e pulsava, pois eu não conhecia mais nada. Porém finalmente eu fui capaz de falar como eles. “Grandes Valar,” eu disse, “Eu venho a vocês como seu irmão perdido, a quem sozinho, entre vocês, foi adicionado o terrível senso da separação. Longamente eu vaguei pelas trevas, confundido por isso. Porém eu voltei, encontrei esse mundo maravilhoso de vocês, vi sua própria beleza. Estar em sua companhia é um bálsamo curador para mim, onde eu poderia por pelo menos algum tempo esquecer de mim mesmo.”

Mas seus olhos primeiro demonstraram consternação, então raiva, e eles disseram a mim, “Olhe a terra onde você pousou, olhe para as coisas crescendo ao seu lado. Onde seu toque cai, tudo isso é deformado, e uma mudança única é realizada. Juntos, na música de Eru Ilúvatar, nós juntamos nossas vozes para elaborar todo esse planeta. Ainda assim você, Melkor, age agora para desfazer tudo isso. Deixe esse mundo, deixe-nos; retorne para sua escuridão para sempre.

Para vê-los, eu também havia começado a confeccionar olhos, e nesses olhos também vieram lágrimas, também novas para mim. Minha aflição, parecia, não era sentida apenas por mim, porém a todos aqueles e aquilo ao redor de mim, causando um tipo diferente de medo e dor a todos eles também. Eles eram criaturas desse universo e de fato, como eu vi, já tinham sido formados nele em suas formas como eu testemunhara. Porém eu, Melkor, era algo estranho a eles, a tudo isso. Um Vala também, porém inimaginavelmente distante de todos os outros.

Eu disse a eles, “Vocês não podem entender os horrores que eu sofri além do universo. Deixem-me ir para ficar nas mais distantes partes desse mundo. Até mesmo isso seria de desesperante conforto.”

Ao redor de mim fluíram seus pensamentos e medos, misturados agora com novas sensações para mim, compaixão e ódio. Confuso como elas eram, sobrepujando elas, como eu agora sinto, havia o amor por algo de sua própria espécie, ainda tão diferente quanto ele pudesse ser. “Vá, então,” eles disseram, “para as terras mais distantes desse mundo, onde há montanhas de pedra e gelo, e permaneça lá se quiser, não colocando seu toque em nenhuma coisa viva. A mão de Melkor transforma tudo o que nós pensamos em coisas estranhas além de nossa sabedoria e desejo. Somente a pedra morta de Arda não irá responder a você.”

“Agora eu tinha quase completa a fabricação de uma forma como aquelas dos Valar, porém ainda assim de uma essência única. As formas deles, eu podia ver claramente, eram sólidas e firmes. Porém as minhas, que não estavam contentes em se submeter à natureza de Arda, brilhava e piscava luz de momento a momento. E os olhos dos outros Valar, eu via, se machucavam ao me olhar, por até mesmo tal visão causava seu senso de disrupção da ordem natural.

Eu me curvei perante eles, e disse, “Antes que eu parta, não há algum presente que eu possa dar para Arda para abençoá-la e os agradar?” Eu olhei em volta, e vi que além da ilha em que nós estávamos Aulë, até mesmo enquanto nos falávamos, se ocupava em forjar dois grandes sóis de fogo, suficientes para trazer luz e calor a Arda. Porém ainda elas estavam sobre o chão, e o queimavam.

“Aqui então,” eu disse, “recebam de mim dois pilares de água, altíssimos acima desse lugar, para segurar esses maravilhosos globos de luz seguros, e que eles possam lançar sua radiância gentilmente e seguramente.” Ulmo foi quem me respondeu: “Está na natureza da minha água correr sempre abaixo do ar de Manwë, ela não pode subir além disso.”

Então ainda outra sensação surgiu em mim, a qual aprendi a ser o humor, e eu ri. “Veja, meu irmão, como sua água pode ser modificada, e ainda assim permanecer a mesma.” Então eu me aproximei do lago, e deixei o frio escorrer das minhas mãos até as águas, e em frente aos olhos dos Valar eu as transformei uma vez, e então ainda outra, em dois pilares de gelo, cada um dos quais eu posicionei na terra além do lago, para o Norte e para o Sul.

“Coloque seus sóis acima disso, Ó Aulë,” eu disse. “E que possam então aquecer esse mundo inteiro, porém sem derreter esse gelo, pois esse é o Gelo de Melkor, e portanto diferente de todos os outros.” Aulë então lançou seus sóis sobre os pilares, de onde isso flutuou em perfeita balança, e eles foram chamados de Illuin no norte, Ormal no sul. Sua luz junta então fluiu por toda Arda, ondeando por suas florestas, campos, rios e mares, e causando todas as coisas vivas a se sentirem mais felizes.

“Agora,” eu disse, “Eu aceito com satisfação a saída que vocês me permitiram, e irei me mudar para aquelas montanhas no norte distante. Talvez, enquanto todos vocês continuem a descobrir e modificar esse mundo, a mão de seu irmão Melkor irá finalmente deixar de ser preocupante a vocês.” E então eu os deixei, Sauron, mas eu deveria ter tido mais cuidado com os olhos de Manwë, a quem, parecia, não estava satisfeito que as águas de Ulmo agora cruzavam seu céu.

Longe no norte, era como os Valar haviam dito: uma escuridão além dos sóis de Aulë para a beira do mundo, e grandes extensões de pedra negra, quebrada e erguidas em enormes montanhas. Para qualquer um que não Melkor elas teriam sido medonhas e proibitivas, porém eu carregava minha própria luz comigo, e então eu não fui amedrontado. Com meus sonhos e o toque de minhas mãos, eu tirei dessa desolação uma quente e confortável habitação, a qual eu nunca pensei em nomear, porém que aqueles diferentes de mim iriam mais tarde em medo e terror chamar de Utumno, o Lar da Escuridão.

Naquela juventude de Arda, O Sauron, tempo não tinha significado, e fosse um ou cem ou vários milhares de anos eu não poderia dizer; porém realmente parecia que Arda era, e sempre seria um lugar de natureza curiosa, isso significando as muitas balanças as quais os Valar conceberam e mantinham. Somente acima de tudo isso flutuavam Illuin e Ormal, os sóis sobre o gelo que não estava de acordo com sua natureza, o Gelo de Melkor, que estava próximo de seus calor porém não se derretia.

E aquilo, para a dor daquele mundo jovem, não era seu trabalho. Eles eram, não apenas por não serem naturais, mas também por sua constante, imensa presença, uma reprovação para todos os outros trabalhos dos Valar. Então, assim, Manwë finalmente chamou Oromë para derrubá-las.

De todos os Valar, Oromë era o mais repugnante aos meus pensamentos. Ele não criava; ele vagava pelas terras de Arda para destruir coisas vivas por sua vontade. Ele o chamava de “caçadas”. Ele o fazia incessantemente e sem restrições: não porque ele necessitava de comida, pois os Ainur não o precisam; não para aplicar castigos, porque as bestas e criaturas que ele matava não conheciam nada disso; ainda assim seu sangue era sacrificado para Oromë. Muito mais forte era ele do que qualquer de suas vítimas, e ainda assim ele treinava bestas para destruir e estraçalhar seus irmãos caçados, por nada além de sua satisfação cruel. Ainda por tudo isso ele era honrado pelos Valar de Almaren, para quem ele alimentava a carne morta e sangue frio de suas mortes em tremendos banquetes.

Agora foi para Oromë que Manwë veio em especial, e então Oromë aumentou suas caçadas para o mais extravagante de seus banquetes, onde ele matou cada uma das criaturas de Arda, e as deu para os Valar de Almaren. E enquanto eles comiam sua carne e bebiam seu sangue, cegos em olhos vermelhos e bocas vermelhas, Oromë se retirou em segredo para os pilares dos sóis e os quebrou, para que então a magia que Melkor havia erguido com eles fosse desfeita.

Então abaixo os sóis caíram, por baixo de cada qual uma enorme onda de água derretida do pilar quebrado. Tão duramente essas águas, e os sóis acima delas, atingiram Arda que todas as suas terras, salvo somente as montanhas de Utumno e o distante norte, foram quebradas e arruinadas. Debaixo das terras surgiram águas escondidas, e assim os grandes oceanos vieram a ser.

Por entre as terras entre eles estava agora duas vastas crateras onde os sóis haviam quebrado, e que depois vieram a se encher de água e formar os mares de Helcar e Ringol.

Os Valar de Almaren, eles mesmos imunes dessa calamidade pelo seu mundo, foram ditas por Manwë que fora eu, Melkor, quem havia destruído os pilares dos sóis na inveja da beleza de seu trabalho por Arda. Mas dessas palavras de Manwë, Ó Sauron, eu não ouvi nada naquele instante. Porque meus encantamentos haviam falhado eu não podia imaginar, e até mesmo tive medo de que eles tivessem se enfraquecido por alguma imprevista falha minha.

Porém agora os Valar de Almaren, vendo seus maravilhosos trabalhos quebrados e destruídos à sua frente, me culparam por todos, e me amaldiçoaram com seus corações repletos de ódio. Saiba, Ó Sauron, que quando os Valar querem que seus pensamentos sejam compartilhados por todos os de seu tipo, de fato é assim. E então eu sabia que qualquer favor que eu poderia ter encontrado com eles estava agora para sempre perdido. Eu estava novamente, como eu tinha sido no não-universo, solitário.

Com Almaren profundamente enterrada abaixo das terras da recém-irrompida Endor, os Valar foram então para o precipício ao Oeste de Arda, onde erguiram uma nova terra para si mesmos, uma planície cercada de montanhas que chamaram de Valinor. Era extremamente estranha para o resto de Arda, pois que os Valar mantiveram de lá sua vigilância em relação à lei natural decretada por Eru Ilúvatar. Em Valinor nenhuma vida desse mundo, uma vez criada, poderia algum dia morrer. Lá distância não tinha sentido. Lá todas as maneiras de luz, escuridão, som, silêncio, calor, frio, era somente como ordenada por cada Vala de momento a momento. Era o resultado de sua insatisfação, e era uma loucura de se olhar, se houvesse alguém para fazê-lo. Porém como ainda em Valinor somente haviam os Valar, eles não se importavam.

Endor e seus compassivos oceanos os Valar abandonaram por longas Eras, deixando-os para qualquer lei natural que Eru Ilúvatar ainda mantinha a eles. E o único Vala a ver isso, Sauron, foi Melkor. De Utumno eu vim: sozinho eu caminhei por Endor, então, e vi seus fluídos e vulcões, ao lado de seus rios, lagos, grandes extensões de montanhas. Da nova terra cresciam árvores e planícies de grama e arbustos. Da lama e dos desertos de areia vieram pequenas criaturas, as quais se tornaram maiores e curiosas. E tudo, sempre, naquilo eu ainda via ser o equilíbrio ordenado por Eru Ilúvatar. Exceto talvez, Ó Sauron, por mim mesmo.

Eu vim a perceber que, por vontade ou por limitação maior que isso, Eru Ilúvatar poderia criar e manter somente de acordo com a balança. Cada força tinha sua força contrária, cada coisa trazida à existência um ser não-existente, cada montanha erguida um abismo de onde ela havia vindo. Criaturas que se formavam do pó, iriam finalmente retornar novamente a ele. Mova seus olhos para o mar além da praia, Sauron, e em suas ondas que vem e vão, vem e vão, você verá a lei de Endor, como sempre ela foi e como sempre será.

Olhando essa Arda que agora viera a ser, eu supus que iria então permanecer assim. Porém eu não conhecia todos os desígnios de Eru Ilúvatar. Em uma de minhas viagens pelos limites de Endor, eu vi o menor dos movimentos detrás de um de seus oceanos escuros – já que todo o mundo salvo Valinor só conhecia a luz das estrelas naqueles tempos. Vindo mais perto, eu vi que emergindo do que parecia ser o nada havia seres como as formas tidas pelos Valar, porém menores e mais firmes em seus corpos. Comum a todas essas novas criaturas era a fina beleza de sua forma e desenho, e uma percepção maior que a das bestas mas menor que os Ainur em seus olhos.

Eu não o sabia naquele tempo, Sauron, porém esses eram os primeiros daqueles os quais os Valar iriam chamar de Filhos de Ilúvatar, as formas pensadas de Arda, ou como eles iriam chamar a si próprios, os Quendi.

Eu parei para contemplar aquelas lindas pequenas criaturas, as quais à primeira vista pareciam tão inocentes e puras como o resto do Endor ao redor deles. Eu passei então por seus ajuntamentos, para eles nada além do suspiro de uma brisa e então – e então, Ó Sauron, eu contemplei dentro de seus olhos e vi então os mesmos olhares de desejo e ódio que havia me perturbado perante os Valar de Almaren. E eu sabia, com um pressentimento terrível, que não havia sido acidente em relação aos Valar, ou a essas novas criaturas de Arda, mas sim novamente o deliberado desígnio de Eru Ilúvatar. Isso também queria dizer que como os Ainur iriam lutar entre si, essas novas criaturas também o fariam. Porque Eru Ilúvatar poderia ter ordenado isso, eu não conseguia adivinhar, e ainda agora permanece um mistério e uma loucura para mim.

Porém depois, considerando essas criaturas que haviam emergido tão harmoniosamente de Arda, um calafrio percorreu meu corpo. Porque agora eu sabia o que permeava Arda. Nada podia emergir dela sem uma compensação. O que, então, compensava esses perfeitos Quendi? Eu não vi nada ao redor deles. Havia Eru Ilúvatar, nessa nova raça de seres, quebrado sua própria lei para esse mundo? No início, foi o que pareceu ser.

Alas, Ó Sauron, isso não estava destinado a ser assim. Para cada dos Quendi, criados em beleza e acuidade mental sobre os campos de estrelas e florestas ao redor do gelo derretido de Illuin, agora o Mar de Helcar, também havia, profundos nas cavernas e realidades estranhas de Endor, formados contra os elementos de si mesmos, uma criatura oposta de crua visão e mente confusa. Esses seres desafortunados, aos quais eram dados a mesma imortalidade dos Quendi, estavam destinados a suportá-la em confusão, dor, medo, e finalmente ódio quando eles descobriram que toda a Arda os desprezava tanto quanto admirava os Quendi.

E deveria haver algum senso profundo entre os Quendi que sua própria vida extravagante para os padrões de Endor era paga pela miséria de suas contrapartes, pois os Quendi se tornaram selvagens e impiedosos contra eles onde quer que os encontravam. Yrch, ou maldade, os Quendi chamavam-nos. As criaturas, incapazes de compreender, supunham ser isso seu verdadeiro nome, o que em seu dialeto quebrado veio a ser Uruk, ou, comumente pela Terra-Média, Orc.

Os Orcs não descobertos e mortos pelos Quendi se esconderam nos mais barrentos e desolados limites de Endor, pois somente lá eles podiam ter esperança de ter o mínimo de segurança contra os Quendi. Em tais lugares foi que eu os encontrei, pois eu tinha compaixão por eles e resolvi oferecê-los santuário e conforto o tanto quanto pudesse. No início, conhecendo apenas os Quendi, eles supunham que eu fosse apenas outro, maior, desses tormentadores e matadores. Então eu dirigi minha forma em similaridade às deles, e então eles rastejaram para fora de suas cavernas e buracos para tremer e pular aos meus pés. Gentilmente eu iria erguê-los e levá-los comigo para Utumno. Naquele local os Quendi nunca iriam ousar se aventurar, e os Orcs sabiam que finalmente estavam a salvo.

De fato, porque eu não os pensava capaz disso, os Orcs se entregaram ao trabalho de Utumno em uma vasta moradia de luz, calor, e conforto. Não foi uma tarefa fácil, pois as montanhas eram profundas e ásperas, mas após longas eras e labores elas finalmente se tornaram uma boa casa para eles. Então nós vivemos por longas eras em Arda, e não nos atrapalhamos os conselhos de Valinor. E então, após minha longa perseverança na solidão e exílio da minha própria espécie, algo maravilhoso ocorreu.

Enquanto eu caminhava nas florestas perante as montanhas, uma noite, meu olhar foi direcionado para o alto, para a expansão estrelada acima. Eu havia dado pouco pensamento sobre isso antes; minhas preocupação haviam sido necessariamente sobre Arda. Porém agora eu estava maravilhado pela majestade do universo além desses pequenos círculos. Eu me abaixei. A terra ao redor de mim estava profundamente silente. Eu mandei meus desejos para aquelas estrelas, então, Sauron. O que quer que tenha me criado se importa um pouco pelo seu trabalho, me mande também uma companhia. Exausto, então, eu dormi.

A manhã – ou o que podemos entender por isso, já que só havia estrelas – veio a Arda, e eu acordei... e vi dormindo ao meu lado a coisa mais bela que eu jamais havia imaginado. Uma Valië ela era, de pela branca delicada e cabelos negros como o céu da noite. Então ela abriu seus olhos e neles, Ó Sauron, estavam as estrelas que haviam ouvido meu desejo. Ulbandi era seu nome... Ulbandi. O que poderia eu dizer a você dela? Se amor vem como um prazer e diversão para os Valar de Valinor, par Amim era o final de uma grande e profunda dor, uma nova vida na qual eu me agarrei em desespero incrédulo. Minha existência, que sempre houvera sido uma maldição sem fim e sem sentido para mim, agora olhava para frente à cada novo momento, enquanto Ulbandi podia compartilhar comigo. Por tudo que eu sempre havia sido desde o Início dos tempos até o final, eu vivi em verdade somente com ela: Ulbandi, Valië das Estrelas.

E em nossa ilusão nós esperávamos viver como os outros seres em Arda, nós até mesmo ousamos conceber um filho, o qual chamamos de Kosomot Valarauko, pois ele era o filho do universo que não era. Em forma e força ele cresceu, um ser sendo nem totalmente dos Valar nem totalmente de Arda, mas de fato, como pensávamos Ulbandi e eu, o melhor dos dois.

Os Orcs o amavam ainda mais do que eu, porque parte de Kosomot veio do seu próprio mundo, e ele se aventurou longe por Endor em busca de outros desse povo que ainda não haviam sido resgatados por Utumno. Para os Quendi ele breve iria se tornar um vingador temido até mais do que Melkor, porque só havia sido meu desejo fazê-los se distanciar dos Orcs que caçavam. Porém quando Kosomot viu o que os Quendi faziam à sua caça desafortunada, uma terrrível ira se apoderou dele, e depois disso todo Quendi que o via perecia em seu fogo negro de contrariedade. Em temor a ele, não sabendo o que ele era ou de onde veio, chamaram-no Balrog, Fogo Negro.

Longe, em Valinor, os Valar conceberam também de suas uniões, de novo seres parte Ainur e parte de Arda. Esses eles chamaram Maiar. De Manwë e Varda vieram Ilmarë, Eonwë e Olórin, de Ulmo e Nienna vieram Ossë e Uinen, de Irmo e Este veio Melian, de Oromë e Vána veio Alatar, de Námo e Vairë veio Pallando, e de Aulë e Yavanna, Curumo e Aiwendil, e Sauron, você próprio.

Além desse conto, quer você deseje contá-lo, e se mais alguém o for ouvir, deixo a você, Ó Sauron. Uma pequena verdade entre grandes névoas isso pode ser, porém estou contente de que ela ao menos existe, talvez um pouco além de nosso sopro breve sobre esse pequeno mundo.
 
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Re: Morlindalë, a Canção Iluminada das Trevas

Fórum errado para postar isso. O certo seria no Clube dos Bardos.
 
Acho que isso se assemelha em propósito com o Mein Kampf de Hittler.
Fazer o mal parecer bom, só isso.
 
Discordo plenamente do Sano. O texto do Fëa se parece com o Mein Kempf não em propósito, de forma alguma, mas em conteúdo. Até porque, o propósito de nenhum dos dois é fazer o mau parecer bom.

Gostei bastante, Fëa. Vou confessar que dificilmente eu leria um texto tão grande com a dor de cabeça que eu estou, mas eu fiquei curioso. Acho maravilhoso e extremamente válido que se chame atenção para o fato de que toda história tem dois lados (já disse Gandalf que nem mesmo os sábios enxergam os dois lados, e nós definitivamente não somos sábios, e nem o narrador das obras do Tolkien).

Esse seu texto, ainda, toca um ponto engraçado em mim. Participei, há MUITO tempo, de um concurso literário aqui da Valinor, tendo sido premiado com menção honrosa. Sobre o que era o texto? Sobre a bondade que há em Melkor. É claro que eu faria totalmente diferente hoje, e você definitivamente mostrou a coisa de um jeito bem mais legal, mas essa coincidência entre nós dois me deixou feliz.

Parabéns e continue com seus textos, ok?
 
Rapaz, me interessei muito pela proposta, mas infelizmente tenho que estar com paciência para ler textos longos no monitor. :tsc: Mesmo assim, lerei logo (agora tenho que sair, não suporto ficar mais de duas horas em frente ao computador). Assim que terminar postarei minha opinião, que, tendo dado uma olhada rápida no geral, provavelmente será positiva! :joinha:
 

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