Dostoiévski
Usuário
A perspectiva cristã na obra de J.R.R Tolkien<?xml:namespace prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-comfficeffice" /><o></o>
<o> </o>
I- Traços cristãos na obra de Tolkien<o></o>
<o> </o>
Nas três principais obras de Tolkien – O Silmarillion, O Hobbit e O Senhor dos Anéis- a cosmovisão cristã, ainda que velada, pode ser percebida quer de forma difusa em toda a saga, quer de forma pontual em muitas passagens, com o que podemos traçar muitos paralelismos entre o cristianismo do Senhor dos Anéis.<o></o>
1) Perspectiva creacionista<o></o>
<o> </o>
O mundo é fruto do ato criador de um Deus Único (“Eru”, que significa “O Único” ou “Ilúvatar”, que significa “Pai de Todos”), contrapondo-se ao politeísmo das mitologias antigas. Assim, àquilo que os antigos tinham como deuses (Zeus e os demais deuses gregos, Júpiter e os demais deuses romanos, Odin e restante dos deuses nórdicos), Tolkien dá a natureza de anjos (os “Vala” e os “Mayar”), ou seja, seres puramente espirituais, que também seriam criaturas (existindo uma hierarquia de espécies dentro dessa mesma natureza: “Sauron” é uma “Mayar” que servirá a “Morgoth”, que é um “Valar”).<o></o>
Fala-se de uma queda de algumas dessas “criaturas angélicas”, quando todas foram submetidas a uma “prova”, concebida alegoricamente por Tolkien como a composição de uma sinfonia em conjunto a partir de um tema dado por “Eru”, em que cada um dos “Vala” se conhecia na medida em que compunha a sua música, sendo que um deles, “Melkor” ou “Morgoth” (imagem do demônio ou lúcifer), inchado de orgulho pelo próprio esplendor, decide criar os seus próprios temas e dá o tom dissonante na sinfonia, fazendo com que muitos dos “Vala” acabem se desviando do tema originalmente proposto.<o></o>
<o> </o>
2) Perspectiva ética<o></o>
<o> </o>
A luta do bem e do mal que pontuam O Senhor dos Anéis e as obras que a precedem, no tempo “estórico”, não tem contornos maniqueístas, mas, pelo contrário, tem um fundo ético nitidamente cristão. Há apenas um princípio do bem: O Ser por excelência, o Deus do Bem. O mal moral é fruto da liberdade: desde os seres inteligentes criados mais perfeitos (os “Vala”), até os humildes (os “Hobbits”), o perfil moral é traçado pelas opções pessoais pelo bem ou pelo mal. Assim, um sábio como Saruman, o branco, pela sua ganância, acaba se tornando, como ele mesmo diria, “Saruman, o das muitas cores”, pérfido e odioso, solitário e vingativo.<o></o>
Nesse sentido, a perspectiva ética se mostra no ressaltar as grandezas e misérias da alma, conforme as virtudes e os vícios dos personagens, bem contrastados, mas em que ninguém está a salvo de se corromper, como também ninguém está irremediavelmente perdido.<o></o>
Assim, a inveja é o motor maior de “Morgoth”, que só deseja destruir o que de bom realizam os demais “Vala” e as criaturas de “Eru”, para construir o seu próprio mundo de dominação. O orgulho e a soberba dessa criatura “angélica” originalmente mais poderosa, acaba sendo vencido pela humildade das menores criaturas desse mundo imaginário (os “hobbits”), cuja vida simples e marcada pela firmeza de caráter, será o elemento explicativo da vitória dom Bem contra o Mal na “Guerra do Anel”.<o></o>
Emociona ver Frodo, ao pensar na dureza da missão que lhe havia sido confiada, quando sozinho com Sam tem de enfrentar a última etapa, concluir que “Tinha de fazer o que tinha de ser feito, e que, se Faramir, Aragorn, Elrond, Galadriel, Gandalf ou nenhuma outra pessoa jamais ficassem sabendo de seu feito, isso não teria importância”. É o comprimento do dever, não para ser visto ou reconhecido pelos outros, mas por sentido de missão da vida.<o></o>
A avareza é a marca característica da posse do “Anel do poder”, que dá poderes extraordinários ao que o utiliza, mas vai corrompendo interiormente aquele que o possui, até torná-lo escravo seu, como ocorreu com “Gollum”, que é o retrato da destruição física e psicológica que o apegamento aos bens materiais acarreta a qualquer criatura. Essa corrupção só se vence com a virtude do desprendimento, como ocorre com “Bilbo, “Frodo” e “Sam”, que portaram temporariamente o “um Anel” e que venceram a tentação de serem seus donos definitivos.<o></o>
A misericórdia e o perdão, não obstante tudo que se possa ter sofrido de mal, se vê também estampado nas palavras de Frodo, impedindo que Sam mate Saruman decaído (e impenitente, sem estar curado interiormente do seu mal): “Não Sam! Não o mate, nem mesmo agora. Pois ele não me feriu. E, seja como for, não quero que seja abatido nesse ânimo maligno. Um dia ele foi grande, de uma nobre estirpe, contra a qual não deveríamos ousar levantar nossas mãos. Entrou em decadência, e sua cura está fora de nosso alcance, mas eu ainda o pouparia, na esperança de que algum dia ela a encontre”.<o></o>
Esses são apenas alguns pontos de semelhança entre a saga Tolkiana e a “História da Salvação”, não se podendo, no entanto, procurar um paralelismo mais abrangente, quando não foi o objetivo de Tolkien assumir todas as premissas fáticas do cristianismo, sob pena de estar fazendo Teologia ao invés de uma despretenciosa obra literária. Mas não se pode deixar de perceber que justamente por ter assumido esses valores básicos, intrínsecos ao cristianismo, é que chegou a produzir uma obra de valor perene e de atrativo universal.<o></o>
Concluindo, podemos dizer que, talvez, Tolkien não quisesse deixar tão explícita a inspiração cristã em suas obras, para evitar que o preconceito anticristão impedisse a captação de valores morais que são intrínsecos à própria natureza humana. <o></o>
<o> </o>
<o> </o>
I- Traços cristãos na obra de Tolkien<o></o>
<o> </o>
Nas três principais obras de Tolkien – O Silmarillion, O Hobbit e O Senhor dos Anéis- a cosmovisão cristã, ainda que velada, pode ser percebida quer de forma difusa em toda a saga, quer de forma pontual em muitas passagens, com o que podemos traçar muitos paralelismos entre o cristianismo do Senhor dos Anéis.<o></o>
1) Perspectiva creacionista<o></o>
<o> </o>
O mundo é fruto do ato criador de um Deus Único (“Eru”, que significa “O Único” ou “Ilúvatar”, que significa “Pai de Todos”), contrapondo-se ao politeísmo das mitologias antigas. Assim, àquilo que os antigos tinham como deuses (Zeus e os demais deuses gregos, Júpiter e os demais deuses romanos, Odin e restante dos deuses nórdicos), Tolkien dá a natureza de anjos (os “Vala” e os “Mayar”), ou seja, seres puramente espirituais, que também seriam criaturas (existindo uma hierarquia de espécies dentro dessa mesma natureza: “Sauron” é uma “Mayar” que servirá a “Morgoth”, que é um “Valar”).<o></o>
Fala-se de uma queda de algumas dessas “criaturas angélicas”, quando todas foram submetidas a uma “prova”, concebida alegoricamente por Tolkien como a composição de uma sinfonia em conjunto a partir de um tema dado por “Eru”, em que cada um dos “Vala” se conhecia na medida em que compunha a sua música, sendo que um deles, “Melkor” ou “Morgoth” (imagem do demônio ou lúcifer), inchado de orgulho pelo próprio esplendor, decide criar os seus próprios temas e dá o tom dissonante na sinfonia, fazendo com que muitos dos “Vala” acabem se desviando do tema originalmente proposto.<o></o>
<o> </o>
2) Perspectiva ética<o></o>
<o> </o>
A luta do bem e do mal que pontuam O Senhor dos Anéis e as obras que a precedem, no tempo “estórico”, não tem contornos maniqueístas, mas, pelo contrário, tem um fundo ético nitidamente cristão. Há apenas um princípio do bem: O Ser por excelência, o Deus do Bem. O mal moral é fruto da liberdade: desde os seres inteligentes criados mais perfeitos (os “Vala”), até os humildes (os “Hobbits”), o perfil moral é traçado pelas opções pessoais pelo bem ou pelo mal. Assim, um sábio como Saruman, o branco, pela sua ganância, acaba se tornando, como ele mesmo diria, “Saruman, o das muitas cores”, pérfido e odioso, solitário e vingativo.<o></o>
Nesse sentido, a perspectiva ética se mostra no ressaltar as grandezas e misérias da alma, conforme as virtudes e os vícios dos personagens, bem contrastados, mas em que ninguém está a salvo de se corromper, como também ninguém está irremediavelmente perdido.<o></o>
Assim, a inveja é o motor maior de “Morgoth”, que só deseja destruir o que de bom realizam os demais “Vala” e as criaturas de “Eru”, para construir o seu próprio mundo de dominação. O orgulho e a soberba dessa criatura “angélica” originalmente mais poderosa, acaba sendo vencido pela humildade das menores criaturas desse mundo imaginário (os “hobbits”), cuja vida simples e marcada pela firmeza de caráter, será o elemento explicativo da vitória dom Bem contra o Mal na “Guerra do Anel”.<o></o>
Emociona ver Frodo, ao pensar na dureza da missão que lhe havia sido confiada, quando sozinho com Sam tem de enfrentar a última etapa, concluir que “Tinha de fazer o que tinha de ser feito, e que, se Faramir, Aragorn, Elrond, Galadriel, Gandalf ou nenhuma outra pessoa jamais ficassem sabendo de seu feito, isso não teria importância”. É o comprimento do dever, não para ser visto ou reconhecido pelos outros, mas por sentido de missão da vida.<o></o>
A avareza é a marca característica da posse do “Anel do poder”, que dá poderes extraordinários ao que o utiliza, mas vai corrompendo interiormente aquele que o possui, até torná-lo escravo seu, como ocorreu com “Gollum”, que é o retrato da destruição física e psicológica que o apegamento aos bens materiais acarreta a qualquer criatura. Essa corrupção só se vence com a virtude do desprendimento, como ocorre com “Bilbo, “Frodo” e “Sam”, que portaram temporariamente o “um Anel” e que venceram a tentação de serem seus donos definitivos.<o></o>
A misericórdia e o perdão, não obstante tudo que se possa ter sofrido de mal, se vê também estampado nas palavras de Frodo, impedindo que Sam mate Saruman decaído (e impenitente, sem estar curado interiormente do seu mal): “Não Sam! Não o mate, nem mesmo agora. Pois ele não me feriu. E, seja como for, não quero que seja abatido nesse ânimo maligno. Um dia ele foi grande, de uma nobre estirpe, contra a qual não deveríamos ousar levantar nossas mãos. Entrou em decadência, e sua cura está fora de nosso alcance, mas eu ainda o pouparia, na esperança de que algum dia ela a encontre”.<o></o>
Esses são apenas alguns pontos de semelhança entre a saga Tolkiana e a “História da Salvação”, não se podendo, no entanto, procurar um paralelismo mais abrangente, quando não foi o objetivo de Tolkien assumir todas as premissas fáticas do cristianismo, sob pena de estar fazendo Teologia ao invés de uma despretenciosa obra literária. Mas não se pode deixar de perceber que justamente por ter assumido esses valores básicos, intrínsecos ao cristianismo, é que chegou a produzir uma obra de valor perene e de atrativo universal.<o></o>
Concluindo, podemos dizer que, talvez, Tolkien não quisesse deixar tão explícita a inspiração cristã em suas obras, para evitar que o preconceito anticristão impedisse a captação de valores morais que são intrínsecos à própria natureza humana. <o></o>
<o> </o>