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A TOMADA DO MORANNON, MORDOR, 03 de Agosto, 3434 S.E.
Erdëmo Tauron.


Escrevo esse relato sentado em cima dos destroços do Morannon, olhando para o que restou do mais recente campo de batalha. Consegui autorização para acompanhar o grupo da linha de frente na tomada do Portão Negro, uma batalha que durou quatro dias e noites.

Essa parte da guerra foi uma das piores. Saímos da clareira e nos dirigimos para o Grande Portão Negro, não haviam mais colinas para subirmos e descermos, apenas uma enorme planície desolada e além dela apenas o imponente Portão que guardava a terra de Sauron. Uma posição fácil de se defender e extremamente difícil de se tomar. Mas nós conseguimos...

Presenciei cenas que achei jamais serem possíveis, vi como não só maldade mas também inteligência era empregada pelas forças de Sauron. Era uma noite quente e sombria, como quase todas as outras anteriores desde que cruzamos o Anduin, e as ordens vieram para avançar. Sabíamos que os Orcs estavam lá e que logo teríamos que avançar, e nessa hora a falta de um capitão experiente mostrou-se desastrosa.

A linha de frente, que era comandada por Targon, recebeu a ordem de avançar e a viram como uma oportunidade de vingarem seu valoroso capitão. Aquela companhia contava com 100 dos 200 soldados originais que começaram a marcha em Arnor, que agora foram anexados à companhia de Capitão Galdor e estavam perfilados em uma linha, lado a lado, para cobrirem melhor o terreno. Flechas armadas em seus arcos e avançando cautelosamente pela planície até encontrarem um primeiro grupo de Orcs.

Estavam demasiadamente adiantados de uma posição mais segura, sobre a proteção dos arcos de seus companheiros no alto do Morannon. Havia algo de estranho naquela formação, mas o fato acabou passando em branco devido à tensão que devia estar dominando as mentes dos que se aproximavam da hora derradeira. A frente da linha de homens estava o Capitão Galdor que havia dado a ordem para seus comandados armarem seus arcos e se prepararem para atirar tão logo entrassem no raio de ação.

Assim que as primeiras flechas foram lançadas, os Orcs dissimuladamente partiram em retirada sem nem sequer dispararem suas flechas. Os comandados pelo falecido Targon, logo notaram algo de errado e se colocaram em prontidão esperando por algum ataque surpresa. No entanto, os comandados por Galdor - incluindo o próprio - saíram em disparada atrás dos Orcs em retirada gritando o nome de Targon. Foi uma corrida desorganizada, feia de se ver e que terminou da forma mais horrenda possível. No caminho entre a nossa posição e a posição em que os Orcs estavam foram cavados dezenas de buracos rasos e dentro colocaram lanças apontadas para o alto; cada um deles foi cuidadosamente coberto por finos gravetos e por uma camada de terra de modo que não se destacassem na paisagem.

Aos poucos os soldados foram caindo dentro dessas armadilhas sinistras e, os que não tiveram sorte de morrerem atravessados pelas lanças, ficaram agonizando. Os que não participaram da perseguição desastrada, ficaram chocados demais para tomarem qualquer ação além de ficarem atônitos olhando para seus companheiros. Do ponto onde estava, não consegui ver de imediato o porque daqueles homens gritarem dentro dos buracos, que eram relativamente rasos, o que aumentou ainda mais o horror de quem veio a passar por eles mais tarde. Por mais que tenha sido horrenda a visão, aquele acontecimento veio a beneficiar em muito os Aliados. Até então não se imaginava que ali, naquela região desprovida de vegetação, poderia ser utilizado tal artifício, geralmente utilizado contra cavalaria. Um fato que nunca chegamos a entender direito foi a premeditada fuga dos Orcs muito antes de a cavalaria chegar, desperdiçando assim ótimas armadilhas.

Quando os comandantes perceberam o que havia sido preparado no caminho a frente, enviaram ordens para que fosse formada uma extensa linha de homens e que esses utilizassem cabos de lanças ou pontas de espadas para descobrirem e sinalizarem essas armadilhas. Alguns outros homens acabaram por ativar as armadilhas e perderam suas vidas, porém foram as últimas ceifadas por aquelas armadilhas.

Ultrapassados esses obstáculos, foi a vez das armas de sítio entrarem em ação. Creio ainda não ter escrito sobre elas anteriormente: Catapultas são equipamentos rústicos, feitos de madeira e cordas de vime; extremamente lerdos na locomoção; Há também as versões maiores, e consequentemente de maior alcance, das catapultas que a ainda somam a incrível lentidão em sua montagem. Ambas requerem equipes para manuseio, entre 5 a 10 homens. Porém todos esses pontos negativos, por assim dizer, são muito bem compensados pelo seu poder de destruição: as catapultas menores conseguem lançar pedras de até 50 quilos e as maiores até 130.

Por pelo menos quatro dias as catapultas despejaram seus projeteis contra o Morannon e suas paredes. Durante a noite, que se sabia estar chegando por causa de uma névoa pestilenta que subia do solo, haviam gurdas montadas para apagarem os possíveis incêndios causados pelas flechas incendiárias dos Orcs. Na metade do quinto dia o imponente Portão Negro havia sido reduzido a ruínas, seria então a hora de novamente enviar a infantaria avançar. Não haveriam mais buracos com lanças dentro, agora seriam apenas Homens e Elfos. Não houve tempo para a tensão que precede esses encontros, pois, assim que a névoa se desfez, já havia uma compacta massa de Orcs do lado de fora do Morannon e os Aliados se lançaram contra eles.

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Agora vamos à infantaria, a Abençoada Infantaria, como eles gostam de se chamar. Sem divisão de raças, apenas uma enorme família.

Devo declarar aqui que amo a infantaria porque são destemidos, são os soldados que estão em todas, não importa se esteja chovendo, nevando, ventando... não têm conforto algum e ao final são aqueles soldados sem os quais as guerras não podem ser vencidas.

Queria que vocês pudessem ver somente uma das imagens que estão na minha memória nesse exato momento. É a mais recente e nela estou sentado entre os destroços do Morannon recém-tomado, olhando para frente, para dentro dos domínios do Senhor do Escuro.

Uma passagem atravessa os destroços ligando uma estrada que passa por uma planície desolada e com corpos espalhados por todos os cantos, a uma outra estrada que passa por mais uma planície repleta de corpos e destroços dos projéteis lançados nos dias anteriores. E por essas estradas e passagem agora caminha uma coluna de Homens e Elfos, caminhando silenciosamente. Por quatro dias e noites eles lutaram bravamente, se alimentaram pouco e raros foram os que conseguiram dormir. Suas noites foram violentas com ataques, lutas, incêndios e seus dias apreensivos com a troca de projéteis das catapultas.

Estão andando em uma marcha lenta, pois estão exaustos. Cada um dos rostos para o qual se olhar expressará a mesma exaustão. Em seus ombros alguns carregam arcos e aljavas com as flechas que restaram, em seus cintos pendem espadas amassadas e praticamente cegas pela violenta carga pela qual passaram. Seus pés parecem afundar no chão árido com o peso que eles estão carregando.

Não estão relaxados. É a sofrível lentidão de cada passo que expressa seu pavoroso cansaço. Seus rostos estão enegrecidos e, embora sejam ainda jovens, suas condições física e espiritual os fazem parecer de idade mais avançada. Em seus olhos, quando passam por mim, não vejo ódio, nem excitação, nem desespero e nem a alegria por sua vitória; há apenas a simples expressão de estarem aqui como se estivessem aqui fazendo isso sempre, e nada mais além disso

A coluna continua se movendo, mas parece infindável. Durante toda a tarde e até bem avançada a noite eles continuam vindo pela estrada e seguindo através da passagem. Uma imensa agonia toma conta do meu coração que me faz sentir envergonhado por os observar dessa forma. São apenas Homens de Arnor, Gondor, Pelargir, Rohan ou então Elfos de Imladris, Lothlórien, Lindon... há até uma companhia de Anões que veio se juntar aos Aliados contra o Senhor do Escuro. Porém vocês não se lembrariam deles agora, estão cansados e praticamente irreconhecíveis. O mundo deles pode nunca ser compreendido por vocês, todavia, se pudessem vê-los apenas uma vez, mesmo que por um breve instante, saberiam que não importa o quão duro trabalhem os que não tomaram parte dessa Guerra, não conseguirão se comparar a esses bravos soldados.