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Autor da Semana Philip K. Dick

Siker

Artista Comercial / Projetista Gráfico
PKD

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Philip Kindred Dick viveu a maior parte de sua vida na Califórnia. Ele nasceu em 16 de Dezembro de 1928, em Chicago. Em sua carreira Dick escreveu cerca de 44 romances, 121 contos e 14 coleções entre 1952 e 1982, quando morreu em Santa Ana, Califórnia.​


Ele se tornou uma presença ameaçadora e iluminada não apenas na cultura americana mas na cultura mundial, com as suas obras traduzidas em grandes línguas européias e asiáticas. Existe até um adjetivo bastardo - "phildickiano" - que aparece de vez em quando para descrever seus twists e reviravoltas desconcertantes. Uma compreensão de fatos básicos da vida de Dick não só lança uma luz sobre os temas que predominam em suas obras, mas também traz à tona uma história fascinante própria.


Os Primeiros Anos

Dick nasceu prematuramente, juntamente com sua irmã gêmea Jane. Seu pai se chamava Edgar Dick e sua mãe Dorothy Kindred. Jane morreu seis semanas após seu nascimento, uma perda que Philip sentiu profundamente ao longo de sua vida. Conforme o tempo passou, Philip veio a se culpar pela morte de Jane. Seu relacionamento com ambos os pais era muito difícil, e só piorou quando eles se divorciaram, Philip tinha 5 anos.

Sua irmã Jane, sua mãe e seu pai serviram como modelo para muitos dos personagens que povoaram seus universos ficcionais nas décadas a seguir. Em particular, a morte de Jane - e a sensação traumática de separação dela, uma experiência comum a muitos gêmeos que perdem o irmão - contribuiu para os dilemas dualistas que dominaram o seu trabalho criativo - ficção científica/usual, real/falso, humano/andróide. Foi a partir destas oposições que as duas maiores questões surgiram, as quais Dick comumente diz guiar sua escrita: O que é Real? E o que é Humano?

Por volta de 1935 um psiquiatra o diagnosticou como um possível esquizofrênico, diagnóstico que o assombrou pelo resto de sua vida. Outros psicoterapeutas e psiquiatras nos anos posteriores deram outros diagnósticos, incluindo a que Dick estava bem são.
Deixando de lado a terminologia médica, não há dúvida de que Dick sofreu ao longo de sua vida com crises de angústia psicológica que ele frequentemente chamava de "colapsos nervosos". Sua experiência com isso foi transformado em retratos ficcionais, mais notado no "ex-esquizofrênico" Jack Bohlen de Martian Time Slip (1964).

Dorothy obteve a guarda de seu filho, e eles acabaram indo morar em Berkeley, onde Dick cresceu, se formou no colegial e frequentou por um breve período a Universidade da Califórnia em 1949, antes de abandona-la.


Um Gênero de Idéias

Em uma dissertação intitulada "Self Portrait" de 1968 ele conta o momento da descoberta do gênero que o deixaria livre da escrita sobre as complexas realidades da sua própria experiência pessoal:
"Eu tinha doze anos [em 1940] quando li minha primeira revista, ela se chamava Stirring Science Stories, e eu li, eu acho, quatro fascículos... me deparei com a revista meio que por acidente, eu estava procurando a Popular Science. Eu fiquei maravilhado. Contos sobre Ciência? Na hora eu reconheci a magia que tinha encontrado, em épocas anteriores, nos livros de Oz, agora associada não com varinhas mágicas, mas com a ciência. De qualquer forma, minha visão se tornou: magia é igual a ciência, e ciência (do futuro) é igual a mágica."
Isso não quer dizer que Dick só leu Ficção Científica com o passar dos anos. Pelo contrário, ele era um ávido devorador de livros, desde Xenophon, James Joyce, os realistas franceses, como Stendhal, Flaubert e Maupassant - tudo isso e muito mais por volta de seus vinte e poucos anos. Dick deu crédito para o escritor James T. Farrell, autor de Studs Lonigan, por te-lo ajudado a ver como construir as histórias de Ficção Científica que ele vendeu em grandes números no início dos anos 50.

E apesar de Dick nunca ter perdido o desejo de ser aceito pelos críticos literários convencionais, ele sempre considerou isto como um tipo de traição por depreciar o gênero de Ficção Científica com o qual ele cresceu. Como ele escreveu em 1980, dois anos após sua morte:
"Quero escrever sobre pessoas que amo, e colocá-las em um mundo fictício jogado para fora da minha própria mente, e não o mundo que realmente temos, porque o mundo que realmente temos não atende meus padrões. Ok, então eu deveria rever meus padrões, eu estou fora da linha. Eu deveria ceder à realidade. Eu nunca cedi à realidade. Ficção Científica é toda sobre isso. Se você quiser ceder a realidade, vá ler Philip Roth; leia os escritores bestsellers da instituição literária de Nova York. É por isso que eu amo FC. Amo ler isso, amo escrever isso. O escritor de Ficção Científica não vê apenas possibilidades, mas incríveis possibilidades. Não é apenas 'E se' - é "Meu Deus, e se..." - em frenesi e histeria. Os marcianos estão sempre chegando."


Um Autor Encontra a Sua Voz

De quinze anos para os seus vinte e poucos, Dick foi empregado em duas lojas em Berkeley, University Radio e Art Music, do proprietário Herb Hollis, um pequeno empresário que se tornou uma espécie de figura paterna para Dick e serviu como uma inspiração para vários de seus personagens mais tarde, mais notavelmente Leo Bulero em The Three Stigmata of Palmer Eldritch (1965), que, no memorando para seus empregados que serve como fachada para o romance, afirma o espírito humano de forma brusca:
"Quero dizer, no final das contas, você tem que considerar que somos apenas feitos de poeira. Isto não é realmente muito para continuar seguindo em frente e não devemos nos esquecer disso. Mas mesmo considerando, quero dizer, isso é meio que um começo ruim, mas nós não estamos tão maus. Então, eu, pessoalmente, tenho fé que mesmo nessa situação ruim, nós estamos diante do que podemos fazer, me entende?"
Three Stigmata, que lida com uma aterrorizante invasão demiurga/gnóstica da Terra por meio do alucinógeno "Chew-Z", fascinou tanto o Beatle John Lennon que ele até pensou em fazer um filme.

No início de 1950, com a orientação do editor de Ficção Científica de Berkeley, Anthony Boucher, Dick começou a publicar suas histórias em um ritmo impressionante - ele teve 7 contos publicados simultaneamente em diversas revistas de FC, incluindo Analog, Galaxy e F+SF - Ele logo desistiu de seu emprego nas lojas do Hollis para perseguir a economicamente insegura carreira de autor de ficção científica.

Em 1954 Dick conheceu um de seus ídolos de FC, AE Van Vogt, em uma convenção de Ficção Científica, onde Van Vogt começou a convencer o escritor neófito que havia mais dinheiro a ser feito em romances do que em contos. Neste ano ele publicou seu primeiro romance, The Solar Lottery. Daí em diante, a taxa de Dick de produção de romances de FC foi notável. Em seu auge criativo, ele publicou dezesseis romances de FC, entre 1959 e 1964. Durante este mesmo período, ele também escreveu romances convencionais que não foram publicados, mais por sua angústia. Até este dia, é pelo seu trabalho com Ficção Científica que Dick é mais lembrado.

Depois de um breve primeiro casamento fracassado em 1948, se casou mais quatro vezes - com Kleo Apostolides em 1950, Anne Rubenstein Williams em 1959, Nancy Hackett em 1966, e Tessa Busby em 1973. Teve uma criança nascida em cada um dos três últimos casamentos, respectivamente, suas filhas Laura e Isa e o filho Christopher. Durante sua vida, Dick foi visto com respeito pelos fãs de Ficção Científica e colegas escritores, embora suas vendas nunca tenham chegado perto de igualar as dos escritores mais populares de Ficção Científica de sua época, como Isaac Asimov, Robert Heinlein e Frank Herbert.


Uma Experiência Que Mudou Sua Vida

Em fevereiro e março de 1974, Dick sofreu uma série de visões e audições, incluindo um feixe de luz rosa claro que transmitiu informações diretamente em sua consciência. Um ano depois dos acontecimentos, em março de 1975, Dick resumiu em "2-3-74" as experiências que permeiam a sua escrita pelos últimos oito anos de sua vida:

"16 de março de 1974: Apareceu - em fogo vivo, com cores brilhantes e padrões equilibrados - e me libertou de toda a escravidão, interior e exterior.

"18 de março de 1974: De dentro de mim, isto olhou para fora e viu que o mundo não computava, que eu - e isto - tínhamos sido enganados. Isto negou a realidade, e o poder, e a autenticidade do mundo dizendo: 'Isso não pode existir, não pode existir'".

"20 de março de 1974: Isto me apreendeu completamente, levantando-me das limitações da matrix do espaço-tempo, e me dominou ao mesmo tempo, eu sabia que o mundo à minha volta era de papelão, uma mentira. Através de seu poder de percepção eu vi o que realmente existia, e através do seu poder de decisão não-pensada, agi para me libertar. Ele assumiu uma batalha, como um campeão de todos os espíritos humanos escravizados, todo o mal, todos os tipos de aprisionamento".

Há aqueles que estão ansiosos para criar um "Santo Phil", que surgiu com essa experiência. Sobre isso, é bom lembrar que o próprio Dick sempre traz em mente o que ele chamou de "hipótese mínima", isto é, a possibilidade de que tudo o que ele passou foi apenas uma auto-ilusão.

Por outro lado, existem aqueles que consideram Dick como um charlatão que impôs aos seus leitores uma revelação pseudo-mística alimentada por um transtorno mental. Mas, certamente, um charlatão é aquele que insiste na seriedade e precisão de suas afirmações. E Dick nunca fez isso. Basta ler VALIS (1981) para encontrar um forte humor no retrato que Dick faz de si mesmo como o Horselover Fat:
"... Fat deve ter criado mais teorias do que há estrelas no universo. Todos os dias, ele desenvolve uma nova, mais astuta, mais emocionante e mais fodida."

Aqueles que insistem na "veracidade" ou "falsidade" da experiência de Dick em "2-3-74" estão esquecendo do ponto central: que essas experiências lhe proporcionaram os meios para explorar, com integridade, discernimento e humildade, as dificuldades para dar sentido a qualquer caminho espiritual em uma cultura secular ocidental implacável e cínica na qual até mesmo aparentes revelações podem ser instantaneamente reformuladas como entretenimento popular.


Na Beira da Eternidade

Dick morreu em 2 de Março de 1982, o resultado de uma combinação de recorrentes derrames e uma parada cardíaca. Em uma entrada de sua exegese (um extenso diário que ele guardava para explorar as ramificações de "2-3-74") em 1981, Dick escreveu como foco uma auto-avaliação de seus objetivos e talentos como escritor, como pode ser encontrado em qualquer um dos seus diários, cartas, dissertações e entrevistas:
"Eu sou um filósofo de ficção, não um romancista, meu romance e minha habilidade de escrever é empregada como um meio para formular a minha percepção. O núcleo da minha escrita não é a arte, mas a verdade. E ainda, não posso fazer nada para aliviar, seja por ações ou explicações. Mas isso parece de alguma forma ajudar o tipo de pessoa problemática e sensível, que é para quem eu falo. Eu acho que entendo o ingrediente comum naqueles em que a minha escrita ajuda: eles não podem ou não vão cegar suas próprias sugestões sobre a natureza, a irracional e misteriosa natureza da realidade, e, para eles, meu corpo é um longo raciocínio sobre essa realidade inexplicável, uma integração e apresentação, análise e resposta e história pessoal."

Pode-se facilmente imaginar esta passagem como sendo escrita por Franz Kafka em seu diário. E é entre os grandes filósofos de ficção do século XX - Kafka, Jorge Luis Borges, Samuel Beckett, René Daumal, Flann O'Brien - que o lugar de Philip na história da literatura reside. Sua unicidade desta linhagem é ainda maior por sua capacidade de ter criado grandes obras na forma de Ficção Científica. Dick permanece compulsivamente, confusamente legível. Ele é o mestre do tombo psicológico, a queda livre metafísica, a conspiração política dentro de uma conspiração dentro de uma conspiração. Ele é - tanto quanto qualquer escritor contemporâneo que temos - um guia astuto para as realidades mutáveis do século XXI.


Pseudônimos

Dick teve dois contos publicados sobre os nomes de Richard Philips e Jack Dowland. "Some Kinds of Life" em Fantastic Universe, em Outubro de 1953, foi publicado como Richard Philipps aparentemente porque "Planet For Transients" foi publicado no mesmo período em seu nome.
O conto "Orpheus with Clay Feet" foi publicado sobre o nome de Jack Dowland. O protagonista deseja ser a inspiração para o autor fictício Jack Dowland, considerado o maior autor de ficção científica do século XX. No conto, Dowland publica uma história intitulada "Orpheus with Clay Feet", sobre o pseudônimo de Philip K. Dick.

O nome Dowland se refere ao compositor da Renascença John Dowland, que é apresentado em vários de seus trabalhos. O título Flow My Tears, the Policeman Said se refere diretamente para a composição mais conhecida de Dowland, "Flow My Tears". No romance The Divine Invasion, a personagem da Linda Fox, criada especificamente com a Linda Ronstadt em mente, é uma famosa cantora intergalática cujo todo seu trabalho consiste em gravações das composições de John Dowland. Além disso, alguns protagonistas nos contos de ficção de Dick são chamados 'dowland'.


Estilo e Trabalhos

As histórias de Dick normalmente incidem sobre a frágil natureza de o que é "real" e a construção da identidade pessoal. Suas histórias muitas vezes se tornam fantasias surrealistas como os principais personagens lentamente descobrem que seu mundo cotidiano é na verdade uma ilusão construída por poderosas entidades externas (como em Ubik), vastas conspirações políticas, ou simplesmente a partir das vicissitudes de um narrador não confiável. "Todo o seu trabalho começa com a suposição básica de que não pode haver apenas uma única realidade objetiva", diz o autor de ficção científica Charles Platt. "Tudo é uma questão de percepção. O chão é suscetível de mudar debaixo dos vossos pés. A protagonista pode encontrar-se vivendo no sonho de outra pessoa, ou ele pode entrar em um estado induzido por drogas que acaba fazendo mais sentido do que o mundo real, ou ela pode ir para um universo completamente diferente".

Universos alternativos e simulacros eram plots comuns, com mundos ficcionais normalmente inabitados, pessoas que trabalham, ao invés de elites galáticas. "Não há heróis nos livros de Dick", Ursula K. Le Guin afirma, "mas há heroísmo. O que conta é a honestidade, a constância, bondade e paciência das pessoas comuns". Dick fez nenhum segredo que muitas de suas idéias e trabalhos foram fortemente influenciados pelas obras de Carl Jung. As construções e modelos junguianos que Dick mais se preocupava parecem ser os arquétipos do inconsciente coletivo, grupo de projeção/alucinação, sincronias e teoria da personalidade. Muitos dos protagonistas de Dick muitas vezes analisam a realidade e suas percepções com termos junguianos, enquanto outras vezes, os temas são tão óbvias referências a Jung que nem é preciso alguma explicação.

"O terceiro maior tema de Dick é sua fascinação com a guerra e seu medo e ódio por ela. É difícil que alguém perceba claramente esta menção, ainda assim, faz parte integrante de seu corpo de trabalho como o oxigênio é para a água." - Steven Owen Godersky.

Dick frequentemente foca na questão "O que é humano?". Em obras como Do Androids Dream of Electric Sheep? seres podem aparecer totalmente humanos em todos os aspectos, enquanto falta alma ou compaixão, enquanto seres alienígenas, como Glimmung em Galactic Pot-Healer podem ser mais humanos e complexos do que os personagens humanos de Dick.
A doença mental era um constante interesse de Dick, e os temas desse tipo de doença permeiam sua obra. Clans of the Alphane Moon é sobre toda uma sociedade composta de descendentes de presos de manicômio. Em 1965 escreveu uma dissertação intitulada "Schizophrenia and The Book of Changes".

O uso de drogas (incluindo o religioso, de lazer, e abusivo) foi também um tema em muitas das obras de Dick, como em "A Scanner Darkly" e "The Three Stigmata of Palmer Eldritch". Dick foi um usuário de drogas durante um grande período de sua vida. De acordo com uma entrevista de 1975 na Rolling Stone, Dick escreveu todos os seus livros publicados antes de 1970, enquanto estava sob o efeito de anfetaminas. "A Scanner Darkly (1977) foi o primeiro romance completo que eu tinha escrito, sem acelerar", disse Dick na entrevista. Ele também experimentou brevemente psicodélicos, mas escreveu The Three Stigmata of Palmer Eldritch, que a Rolling Stone chama de "o romance clássico de LSD de todos os tempos", antes que ele tivesse ao menos experimentado. Apesar de seu uso pesado de anfetaminas, no entanto, Dick disse mais tarde que os médicos lhe tinham dito que as anfetaminas nunca chegaram a afeta-lo, que seu fígado as processava antes de chegarem a seu cérebro.
Resumindo todos estes temas em "Understanding Philip K. Dick", Eric Carl Link discute oito temas ou 'idéias e motivos': Epistemologia e a Natureza da Realidade, Conhece a Ti Mesmo, o Android e o Humano, Entropia e Maconha Medicinal, O Problema da Teodicéia, Guerra e Poder Político, O Homem Evoluído, e 'Tecnologia, Mídia, Drogas e Loucura".


Trabalhos e Adaptações

Desde sua morte prematura aos 53 anos, houve um crescimento extraordinário de interesse em suas obras, que durante sua vida foram largamente ignorados pelos críticos e leitores convencionais. Mas esse não é mais o caso, e os romances de Philip K. Dick frequentemente aparecem nos currículos universitários dedicados à literatura americana moderna. Mas esse foi só o começo da transformação. Desde 1982, quando Blade Runner de Ridley Scott (baseado em Do Androids Dream of Electric Sheep?) fez a sua estréia, oito longas-metragens baseados em obras do Dick apareceram, os outros sete sendo Total Recall, Minority Report, Screamers, Impostor, Confessions d'un Barjo (baseado no romance Confessions of a Crap Artist), Paycheck, A Scanner Darkly e Next. Isso é uma média de cerca de um filme a cada três anos desde a morte de Dick - uma taxa de adaptação cinematográfica superada apenas por Stephen King. E ainda há outras opções de super produções atualmente em posse dos estúdios de Hollywood.

Enquanto seus romances e contos costumam oferecer visões do futuro, muitos aspectos de sua vida podem ser percebidos em suas obras. "A Scanner Darkly" foi dedicado a muitos de seus amigos que morreram ou sofreram danos por abuso de droga (inclusive ele mesmo). A narração em primeira pessoa de "Radio Free Albemuth" foi escrita sob a perspectiva de um jovem escritor de ficção científica chamado Philip que vive em Berkeley. Muitas idéias das visões de Dick sobre este mundo estão em seus trabalhos. Estas incluem sua desconfiança no governo e na autoridade, sua vida como um escritor profissional e até mesmo suas experiências místicas. A trilogia Valis continua a cruzar as linhas entre ficção e a realidade distorcida de Dick.

"Meu casamento de oito anos terminou; Eu me mudei para o campo e conheci uma mulher que tinha acabado de perder seu marido. Nos conhecemos em Outubro (1958) e nos casamos no próximo mês de Abril, em Ensenada, México. Eu tinha ela e três meninas para cuidar, e por dois anos eu era incapaz de produzir qualquer coisa que não fosse somente por dinheiro. Por fim eu acabei desistindo e fui trabalhar para minha mulher em sua joalheria. Eu era miserável... com Anne eu não conseguia me satisfazer porque o impulso criativo dela era tão grande que as vezes dizia que meu trabalho criativo "entrava no caminho dela". Até na joalheria eu apenas polia as peças que ela criava. Meu senso de auto valorização começou a crescer, então eu procurei o padre de nosso tempo, o psicólogo-psiquiatra, e pedi seu conselho. "Vá para casa," ele disse, "e esqueça a joalheria.. vá para casa.. e simplesmente escreva um bom livro, um livro em que você acredite. Você pode parar de preparar café da manhã para as crianças e ajudar sua mulher no trabalho dela. Escreva um livro". E assim eu fiz, sem pensar duas vezes; Eu apenas me sentei e escrevi. E o que escrevi está em 'The Man In the High Castle.'"

(trecho retirado de "The Shifting Realities of Philip K. Dick" [pp. 15-16])

Dick recebeu o Prêmio Hugo em 1963, por "The Man in the High Castle", que fala sobre um mundo pós-II Guerra Mundial no qual o Japão e a Alemanha são os vencedores e os Estados Unidos é dividido entre eles. Na elaboração do enredo, Dick empregou o I Ching em várias ocasiões e também integrou esse texto divinatório na própria narrativa - fazendo sua estréia na ficção americana.

A Scanner Darkly (1977) é uma mistura sombria de ficção científica e romances de procedimento policial; nesta história, um detetive da narcóticos infiltrado começa a perder noção da realidade após ser vítima da mesma droga que ele deveria combater, a Substância D. Esta droga é instantaneamente viciante, começando com uma euforia prazerosa que rapidamente é substituida por uma enorme confusão, alucinações e eventual extrema psicose. Neste romance, assim como em todos os outros de Dick, existe uma camada por baixo da paranóia com múltiplas realidades percebidas ao mesmo tempo. Foi adaptado para o cinema por Richard Linklater.

The Three Stigmata of Palmer Eldritch (1965) se utiliza de uma variedade de conceitos de ficção científica e apresenta várias camadas de realidade e irrealidade. É também um dos primeiros trabalhos de Dick a tratar temas religiosos. O romance acontece no século XXI, quando a humanidade, sobre a autoridade da ONU, colonizou todos os planetas habitáveis do sistema solar e a lua. A vida é fisicamente desgastante e psicologicamente monótona para a maioria dos colonizadores, então a ONU tenta obrigar as pessoas para ir até as colônias. A maioria se entretem usando bonecas "Perky Pat" e acessórios fabricados por "P.P. Layouts" da Terra. A companhia também criou o "Can-D", uma ilegal porém aplamente disponivel droga alucinógena que permite a seus usuários "se tornarem" uma Perky Pat (se o usuário for uma mulher) ou o namorado da Pat, Walt (se o usuário for homem). Este uso recreativo da Can-D permite aos colonizadores experimentar por alguns minutos uma vida idealizada na Terra, participando de uma alucinação coletiva.

Do Androids Dream of Electric Sheep? (1968) é a história de um caçador de recompensas que policia a população andróide local. Ocorre em uma morta e envenenada Terra, despovoada de todos os humanos "bem sucedidos"; os únicos habitantes restantes do planeta são pessoas sem expectativas. Andróides, também chamados de "Andys", todos tem definida uma data de "morte". Entretanto, alguns andys tentam escapar deste destino e tomam o lugar de humanos na Terra. O livro é a fonte literária do filme Blade Runner (1982). É tanto uma fusão como uma intensificação da questão dickiana: O que é o Real, o que é falso? Qual o fator crucial que define a humanidade como distintamente "viva", contra aqueles que meramente vivem das suas aparências externas?

Flow My Tears, the Policeman Said (1974) trata sobre Jason Taverner, um astro de televisão vivendo em um estado policial distópico de um futuro próximo. Depois de ser atacado por uma ex namorada irritada, Taverner acorda em um sujo quarto de hotel em Los Angeles. Ele ainda tem seu dinheiro na carteira, mas suas identidades sumiram. Este não é um problema pequeno, já que pontos de checagem (dirigidos por "pols" e "nats", a polícia e a guarda nacional) estão espalhados por toda a cidade para prender qualquer um sem uma identidade válida. Jason a princípio pensa que foi roubado mas logo descobre que toda sua identidade foi apagada. Não há nenhum registro dele no banco de dados oficial, e nem mesmo as pessoas próximas a ele o reconhecem. O romance foi o primeiro publicado após anos parado, durante o tempo em que sua reputação cresceu, e este romance foi premiado com o John W. Campbell Memorial Award por melhor romance de ficção científica.
Em uma dissertação escrita dois anos antes de sua morte, Dick descreveu como ele aprendeu dos padres episcopais que uma importante cena de "Flow My Tears, the Policeman Said" era muito similar a uma cena no Atos dos Apóstolos. O diretor Richard Linklater discutiu sobre este romance no seu filme Waking Life, que começa com uma cena reminiscente de um outro romande de Dick, "Time Out of Joint".

Confira trechos de alguns livros liberados pela Editora Aleph:
Ubik
Valis
O Homem do Castelo Alto
Os Três Estigmas de Palmer Eldritch


Palco e Rádio

Quatro obras do Dick já foram adaptadas para o palco. Uma foi a ópera VALIS, composta por e com libretto de Tod Machover, que foi apresentada no Pompidou Center em Paris, em 1º de Dezembro de 1987, com um libretto francês. Foi sequencialmente revisada e readaptada para o inglês, e então gravada e lançada em CD (Bridge Records BCD9007) em 1988. Outro foi Flow My Tears, the Policeman Said, adaptado por Linda Hartinian e produzido pela companhia Mabou Mines. Foi apresentada em Boston no Boston Shakespeare Theatre (Junho 18-30, 1985) e foi logo em seguida apresentado em Nova York e Chicago. Uma peça baseada no Radio Free Albemuth também teve uma breve passagem nos anos 80. Em Novembro de 2010, uma produção de Do Androids Dream of Electric Sheep?, adaptado por Edward Einhorn, estreou no 3LD Art and Technology Center em Manhattan.

Uma adaptação para rádio de um curta de Dick, Mr. Spaceship, foi ao ar pelo Finnish Broadcasting Company em 1996 sob o nome de Menolippu Paratiisiin. Dramatizações em rádio dos curtas
Colony e The Defenders foram ao ar pela NBC em 1956 como uma parte da série X Minus One.


Quadrinhos

A Marvel adaptou o conto The Electric Ant como uma limitada série que foi lançada em 2009. A HQ foi produzida pelo escritor David Mack (Daredevil) e o artista Pascal Alixe (Ultimate X-Men), com as capas feitas pelo artista Paul Pope.
Também em 2009, 'BOOM! Studios' publicou uma minissérie de 24 fascículos adaptando Do Androids Dream of Electric Sheep?
Blade Runner, o filme adaptado em 1982 deste mesmo livro tinha sido anteriormente adaptado para os quadrinhos como 'A Marvel Comics Super Special: Blade Runner'.


Outros Formatos

O designer Philippe Starck afirmou que Philip K. Dick é uma influência em seus designs. Ele normalmente nomeia suas mobílias baseando-se em personagens de obras do Dick.

Em resposta ao pedido em 1975 do National Library for the Blind para permitir que façam uso do The Man in the High Castle, Dick respondeu, "Eu também lhe dou permissão geral para transcrever qualquer das minhas passadas, presentes e futuras obras, então sim, você pode adicionar meu nome na lista de "permissão geral". Um certo número de seus livros e contos estão disponíveis em braille e outras formas especializadas através do NLS.

Algumas obras de Dick podem ser encontradas pelo Projeto Gutenberg.

Aqui um vídeo (em inglês) da Time com Brian Mallow, um comediante fã de Dick, falando sobre os filmes adaptados/inspirados em suas obras:

Os filmes adaptados: Blade Runner (1982), Baseado em "Do Androids Dream of Electric Sheep?"; Screamers (1995) Baseado em "Second Variety"; Total Recall (1990) Baseado em "We Can Remember It For You Wholesale"; Confessions d'un Barjo (Francês, 1992) Baseado em "Confessions of a Crap Artist"; Impostor (2001) Baseado em "Impostor"; Minority Report (2002) Baseado em "The Minority Report"; Paycheck (2003) Baseado em "Paycheck."; A Scanner Darkly (2006) Baseado em "A Scanner Darkly"; Next (2007) Baseado em "The Golden Man"; The Adjustment Bureau (2010) Baseado em "The Adjustment Team"; Radio Free Albemuth (2010) Baseado em "Radio Free Albemuth"; King of the Elves (2012) Baseado em "King of the Elves"; Ubik (em produção).
E alguns inspirados em suas idéias: The Truman Show (1998), Matrix (1999), Fight Club (1999), Donnie Darko (2001), Eternal Sunshine of the Spotless Mind (2004), Inception (2010).
Confira no IMDB a lista completa.


Livros de Philip K. Dick no Brasil

Pela Editora Aleph
O homem do castelo alto (304 páginas, R$ 44)
Os três estigmas de Palmer Eldricht (248 páginas, R$ 42)
Ubik (238 páginas, R$ 42)
Valis (304 páginas, R$ 44)

Pela Editora Rocco
O caçador de androides (256 páginas, R$ 36)
O homem duplo (308 páginas, R$ 38,50)
Vozes da rua (432 páginas, R$ 58,50)

Bibliografia na Wikipedia.

Na Valinor:
O Caçador de Andróides
Minority Report
Ubik

Fontes:
Philip K. Dick Official Site
Philip K. Dick Fan Site
The Biography Project
Cinema com Rapadura
Editora Aleph
Wikipédia
 

Anexos

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Meu favorito é "Ubik", recomendo. O "Do Androids Dream of Electric Sheep?" é muito bom, mas você tem que desapegar do Blade Runner na hora de ler, porque tem bastante coisa diferente.
 
Meu favorito é "Ubik", recomendo. O "Do Androids Dream of Electric Sheep?" é muito bom, mas você tem que desapegar do Blade Runner na hora de ler, porque tem bastante coisa diferente.

Estou pensando em adquirir o box Essencial Philip K. Dick, que contém as obras Blade Runner, O Homem do Castelo Alto e Ubik.
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Fiquei com muito interesse de ler alguma coisa desse escritor, que ainda não tive a oportunidade de conhecer. Aproveito para perguntar para quem já conhece a obra de Philip K Dick, por qual livro devo começar?
já li o Homem do Castelo Alto e o das ovelhas que é o "Blade Runner".
Ambos são muito bons e você pode escolher qualquer um deles.
Sobre o Homem do Castelo Alto estou vendo a série da Amazon Prime e também recomendo muito! Alexa Davalos :grinlove:
 
Esse foi um autor cujos livros demorei pra gostar, mas quando quando gostei fui emendando um título atrás do outro, fora os filmes adaptados que são clássicos.
 
já li o Homem do Castelo Alto e o das ovelhas que é o "Blade Runner".
Ambos são muito bons e você pode escolher qualquer um deles.
Sobre o Homem do Castelo Alto estou vendo a série da Amazon Prime e também recomendo muito! Alexa Davalos :grinlove:

Comecei a me interessar pelo autor, apesar de ainda não ter lido nada dele, por causa do série da Amazon Prime. Já comprei até um livro dele, Realidades Adaptadas, coletânea que reúne os contos de Philip K. Dick adaptados para o cinema, além da biografia do escritor, de autoria de Anthony Peake. Após, pretendo compra o box mencionado acima.
 
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