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Autor da Semana Angélica Freitas.

Mavericco

I am fire and air.
Usuário Premium
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Angélica Freitas
A vida, a obra, os dilemas, as polêmicas, o sucesso.

Obras Publicadas.

Obras.
  • Rilke Shake (São Paulo: Cosac Naify, 2007)
  • Um útero é do tamanho de um punho (São Paulo: Cosac Naify, 2012)

Editoria
  • revista Modo de Usar & Co. (Rio de Janeiro: Livraria Berinjela, 2007)
  • revista Modo de Usar & Co. 2 (Rio de Janeiro: Livraria Berinjela, 2009)

Antologias
  • Cuatro Poetas Recientes del Brasil (Buenos Aires: Black & Vermelho, 2006) - Argentina - ISBN 10: 9872222320
  • Otra línea de fuego: quince poetas brasileñas ultracontemporaneas. Org. Heloísa Buarque de Hollanda. (Diputación Provincial de Málaga, 2009) - Espanha
  • VERSSchmuggel / Contrabando de Versos (Berlin: Das Wunderhorn / São Paulo: Editora 34, 2009) - Alemanha
  • El libro de los gatos (Buenos Aires: Bajo la Luna, 2009) - Argentina
  • A Poesia Andando. 13 poetas do Brasil (Lisboa: Cotovia, 2008) - Portugal
  • Skräp-poesi: antología bilingüe en español y sueco (Malmö: ed. POESIA con C, 2008) - Suécia
  • Natiunea Poetilor (Suceava: ed. Musatini, 2008) - Romênia
  • Poesía-añicos y sonares híbridos. Doce poetas latinoamericanos (Berlin: SuKulTur, 2007) - Alemanha
  • Caos Portátil (Ciudad de México: ed. El Billar de Lucrecia, 2007) - México
  • Poemas no ônibus (Porto Alegre: Secretaria Municipal da Cultura, 2002) - Brasil - ISBN 393773774X

FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Angélica_Freitas

Biografia.

Pedir a biografia de um poeta contemporâneo é... Engraçado. Sabemos pouco deles. Por exemplo, sabemos que o Fabrício Corsaletti emoldura poemas na parede. Mas quem é Fabrício Corsaletti? Pelos deuses, pedir a biografia de alguém vivo é escrever no vento. Por isso, o máximo a que podemos nos resumir é grafar alguns detalhes básicos, é grafar a data de nascimento, o que é, o que fez, estudou o quê, comida preferida, calça que número etc e tal.

Nasceu em 8 de abril de 1973, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Estudou jornalismo em Porto Alegre, na UFRGS. Trabalhou como repórter no O Estado de S. Paulo e na revista Informática Hoje, em São Paulo. Atualmente dedica-se à tradução de poesia e ao segundo livro, com pequenos poemas de viagem pela Bolívia. Publicou em diversas revistas como Inimigo Rumor, Diário de Poesía (Argentina) eaguasfurtadas (Portugal). Integra a coletânea Cuatro poetas recientes de Brasil (Buenos Aires, 2006).Rilke shake é seu primeiro livro (coleção Ás de Colete) e está na lista dos 51 títulos que foram aprovados pela comissão do Prêmio Portugal Telecom 2008. Por anos manteve o blog tome uma xícara de chá.

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FONTE: http://editora.cosacnaify.com.br/Autor/177/Angélica-Freitas.aspx

Vamos repetir, pois repetir é aprender:

Nasceu em 8 de abril de 1973, em Pelotas, Rio Grande do Sul. Estudou jornalismo em Porto Alegre, na UFRGS. Trabalhou como repórter no O Estado de S. Paulo e na revista Informática Hoje, em São Paulo. Atualmente dedica-se à tradução de poesia e ao segundo livro, com pequenos poemas de viagem pela Bolívia. Publicou em diversas revistas como Inimigo Rumor, Diário de Poesía (Argentina) e aguasfurtadas (Portugal). Integra a coletânea Cuatro poetas recientes de Brasil (Buenos Aires, 2006). Rilke shake é seu primeiro livro (coleção Ás de Colete) e está na lista dos 51 títulos que foram aprovados pela comissão do Prêmio Portugal Telecom 2008. Por anos manteve o blog tome uma xícara de chá e é coeditora da Modo de Usar & Co..

A poeta já participou de festivais de poesia contemporânea como o Poesiefestival Berlin na capital alemã, quando este dedicou seu foco à língua portuguesa em 2008, além de festivais no México, Chile, Argentina e Romênia. Seu próximo livro, intitulado Um Útero é do Tamanho de um Punho, será lançado este ano, após receber a bolsa do Programa Petrobras Cultural.

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FONTE: http://colunistas.ig.com.br/monador...evelacao-da-poesia-contemporeanea-brasileira/

O supracitado blog tome uma xícara de chá, como os senhores podem ver no abaixocitado link:
http://www.blogger.com/blogin.g?blogspotURL=http://loop.blogspot.com.br/
está restrito a convidados.

Mas, como nós valinoreanos somos convidados sempre, naturalmente que isto é um engano e que vamos entrar em contato com o dono do blog.

Pois bem. Acabou por aí?

Vejam só como falar de literatura contemporânea é uma delícia. Vejam só como falar de poesia contemporânea é uma delícia. Como dito, o que saber da vida de um poeta que vive enquanto nós vivemos? Que vibra com a entrada de Yudi Tamashiro em A Fazenda? Que chora quando o tomate sobe de preço?

Mesmo quando conhecemos a vida biografada de um poeta, o que conhecemos é pouco. Um poeta, em especial um bom poeta, dá sempre a impressão de que sua vida está em seus versos -- de que ali, e tão somente ali, está seu fluxo vital, está tudo o que ele foi de importante. Creio que basta olharmos para alguém como Murilo Mendes, Emily Dickinson ou Elizabeth Browning, pessoas que, fossem apenas pessoas, teriam se reduzido a uma vida qualquer, seriam dessas pessoas que entram em cena e saem de cena, cheias de som e fúria, significando nada.

O melhor artigo de cunho biográfico que já pude encontrar sobre Angélica Freitas é o Diz-me com quem te deitas, Angélica Freitas, de Alexandra Lucas Coelho. A parte principal do artigo todo, e da vida de Angélica (creio), está resumido no seguinte parágrafo:

Trabalhava na tal revista quando Carlito Azevedo veio do Rio de Janeiro dar um workshop de poesia, num sábado de 2005. “Era o dia inteiro”, lembra Angélica. “Eu estava superdêprê, tinha levado um pé na bunda [a namorada deixara-a]. Aí pensei: vou fazer essa oficina.”

Premiado desde a estreia (Collapsus Linguae, 1991), Carlito era uma referência influente. Além da revista Inimigo Rumor, dirigia a colecção de poesia Ás de Colete (co-edição Cosac e 7Letras). Nesse sábado, propôs aos alunos que escrevessem um poema a partir de um poema, O grande desastre aéreo de ontem, de Jorge de Lima. Tinham que escolher um personagem. Angélica escolheu o violinista: “Só que na hora de ler eu estava com muita vergonha. Conforme eles liam pensava que iam me jogar pela janela.”

O título dela era: o que passou pela cabeça do violinista em que a morte acentuou a palidez ao despenhar-se com sua cabeleira negra & seu stradivárius no grande desastre aéreo de ontem. Leu a tremer. “Nem sabia se era um poema. Quando terminei ficou aquele silêncio. O Carlito se levantou, pegou a folha, leu para ele, começou a bater palmas. E eu vi tudo preto, morrendo de vergonha.”

***

“Tinha uns 30 alunos, muito bons”, conta Carlito Azevedo. “Mas quando chegou a vez dela a coisa deu um salto. Era meio Amy Winehouse. Tem um poema do Mário Quintana que diz: descobrir a América é fácil porque é grande, difícil é descobrir uma moeda. Angélica era a América. Já era muito grande.”

No fim, pediu-lhe mais poemas. “Ela estava cheia de dúvidas. O meu trabalho foi só convencê-la de que era escandalosamente talentosa, tinha tudo para fazer diferença.” E convidou-a para publicar na Inimigo Rumor.

O resto é o que podemos ler nos poemas, e isto, senhoras e senhores, será o que faremos a partir de agora.

O Poemário Virtual de Angélica.

Destaco o nome do site.


Recensão Crítica.

Misturo positivas às negativas.


Apendicite.


Entre Línguas Multifábulas: a posição de Angélica Freitas na poesia contemporânea.

Tem-se dito, com uma insistência digna de questionamento, que falta lirismo à poesia contemporânea. No entanto, analisando a conjetura do que se tem traçado nesta segunda década do milênio, vemos que este comentário tende a se restringir a uma voz insistente, mas solitária.

Podemos começar falando que os acontecimentos que presenciamos já não permitem traçar com a mesma facilidade, a mesma crítica o panorama de uma sociedade plenamente apática. Mas, para me restringir ao conteúdo da poesia, resta indagar o que essa crítica entende por lirismo. Se se trata apenas da expressão do eu da forma como comumente a conhecemos (o que geralmente é uma contingência em relação à poesia amorosa), é provável que falte a esta mesma crítica um olhar mais amplo. Por exemplo, da poesia que é publicada anonimamente na internet, vemos uma predominância de poemas transbordantes, muitas das vezes destrambelhadamente líricos.

Claro que, em contraposição a esse panorama de autores anônimos que se acendem e se apagam, teríamos o "alto escalão literário", os autores prestigiados por grandes editoras que, em seus textos, apresentam uma obra distanciada desse lirismo que, pelo que dá a entender a crítica de poesia, é a verdadeira panaceia (e no entanto, o descompasso entre a poesia do baixo e do alto escalão literário nunca é plena).

Desse alto escalão literário, uma pesquisa não muito aprofundada demonstra que a poesia até então se pautou majoritariamente pelo teor metalinguístico, o que não deixa de ser uma verdade se pontuarmos suas devidas ressalvas. E, graças a este caráter, muito se foi comentado a respeito de uma espécie de alheamento, de uma falta de criatividade, de uma crise, em suma, dos paradigmas literários.

No entanto, relacionar a poesia metalinguística a uma poesia feita de forma fáustica, isto é, trancafiada em meio aos livros, com a condição de que seu autor seja um Übersmench desiludido e misantrópico em relação ao que ocorre lá fora, ao que os sinos dobram -- relacionar a poesia metalinguística a tal equação simplificada não deixará de ser uma inocência. Muito antes de representar um mero chocalho de palavras, ou de apontar pura e simplesmente à dicotomia traçada entre concretistas versus marginais (o que, conforme tem-se notado mais recentemente, é empobrecedor), a poesia metalinguística é também um questionamento do mundo que o cerca e do poeta que a faz. Afinal, como dito por Saussure, a rigor a língua não existe, mas tão somente a manifestação da mesma. Assim, comentário análogo posso fazer aos instrumentos artísticos, que, sem a base fatídica de um poema, inexistem.

Pois se a poesia metalinguística nada mais é que um discurso poético voltado a si mesmo, não podemos levar isto de forma tão literal. O discurso poético é uma manifestação; ele, a rigor, não existe. Logo, a poesia metalinguística não deixará de ser uma manifestação voltada para a própria manifestação, o que, por mais que seja feito de forma mais ferrenha e restrita, não deixará de trazer consigo idiossincrasias inegáveis, como a própria idiossincrasia do indivíduo que a maneja e a relação técnico-subjetiva, instrumental-subjetiva, da manifestação que cada pessoa dá para uma atividade que não se resume, mas se manifesta.

Dito por Paulo Henriques Britto, poeta consagrado por seu escopo de análise metalinguístico, em livro recente: "Ninguém busca a dor, e sim seu oposto, / e todo consolo é metalinguístico." O que podemos extrair disto, além de uma referência à fórmula eliotiana já clássica de que a poesia é a fuga da emoção, é que, se a dor que o poeta deveras sente é manifesta na instrumentação poética, mesmo a poesia metalinguística não prescindirá dessa forma de consolo.

Além do mais, se esse foi o quadro literário que se delineou entre a década de 90 e a primeira década do presente século, nota-se que, nesta segunda década, em especial 2012, uma nítida desconstrução do panorama metalinguístico ou "objetivo", "cabralino" ou vá lá saber o quê mais, vem sendo evidenciada. É hora de encontrarmos uma grande manifestação de poetas influenciadas por Ana Cristina César, poetas como Alice Sant'Anna ou Bruna Beber, e ao mesmo tempo vermos aqueles que sempre se pautaram pela busca de formas genuinamente líricas, como, por exemplo, um Ricardo Domeneck que lança um ciclo de poemas sobre o amor ou um Eucanaã Ferraz que, em seu livro mais recente, ostenta o expressivo título Sentimental.

E assim aportamos a Angélica Freitas. Sua poesia é reconhecidamente cômica, uma poesia que se vale de instrumentos clássicos da poesia (a rima por exemplo) para brincar com a objetividade. E, brincando com essa objetividade, Angélica quebra mais uma vez o discurso tão enviesado de que a poesia contemporânea se reduz a formas pétreas de expressão. Entendendo que o riso é também uma forma por excelência de se alcançar a sentimentalidade, a poesia de Angélica tem se encaminhado para uma análise dos preconceitos vigentes em nossa sociedade, o que, de pronto, pode nos levar a duas conclusões:

1) o humor de Angélica vai se tornando sério, corrosivo, num processo que deixará tão somente ao leitor a última risada, risada talvez solitária e desesperadora. Trata-se de um processo de evolução literária que poderíamos traçar em paralelo ao de poetas como Carlos Drummond ou Manuel Bocage;

2) o preconceito é uma forma de objetividade que acua a subjetividade da pessoa. Assim, Angélica, e graças mais uma vez ao humor, consegue alcançar ambas as esferas num processo interessante: é comum que o humor inverta a camada de preconceitos (o que, por si só, não é algo bom nem ruim). Assim, com base no humor é natural que a esfera da subjetividade seja posta em primeiro plano, virando ao avesso a equação que o preconceito esboça. Por exemplo: ao falar dos vários tipos de mulher em determinada passagem de Um útero, Angélica faz uma reviravolta e, ao invés de tratar da objetividade desse preconceito, trata da subjetividade dessa mesma mulher, da subjetividade do preconceito (o que é o bastante para anular o preconceito, é claro).

Combinadas as duas possibilidades, e aliadas a uma poesia que possui um fácil acesso, Angélica Freitas consegue alcançar múltiplos êxitos que vão desde a vendagem a abrir espaço para outros poetas, até o vislumbre de se fazer política, por exemplo, sem se valer das formas enviesadas que o século XX apontou. É uma poesia que se comunica constantemente com tradições no geral desapercebidas em nossa língua, arrisco-me a dizer com toda uma tradição trovadoresca que, pondo de lado os galanteios amorosos que permeavam essa poesia, tomam como esteio as canções de escárnio e maldizer para, a um só tempo, entreter, demonstrar o lúdico e, a partir do lúdico, desaguar no vexame.

Desse modo, reafirmo mais uma vez que a posição singular de Angélica no cenário literário contemporâneo não é uma posição de ruptura calculada conforme muitos críticos propuseram -- o retorno ao lírico. Antes, e entendendo que o lírico possui uma gama de possibilidades muito mais ampla (o lírico povoa a poesia metalinguística ou mesmo a concreta), a poesia de Angélica brinca com a objetividade de fato e a objetividade de sua construção para afetar o lírico, como se entendesse, numa perspectiva que se principia num viés sociológico, que a identidade do indivíduo vai de encontro direto à sua personalidade social, aos preconceitos e conceitos que o indivíduo forma e que dele são formados.

Graças à comicidade, Angélica consegue uma verdadeira faca de dois gumes: ataca tanto as instituições de opressão quanto os opressores, dá um alívio ao oprimido quanto atinge sua individualidade e propõe uma forma de emancipação lúdica, é verdade, mas nem por isso menos válida.
 
Última edição:
Enquanto isso, no reino encantado da poesia contemporânea...

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DEVER
Armando Freitas Filho.
Cia das Letras, R$ 36,00, lançamento em 28/08/13.

Armando Freitas Filho estreou em livro em 1963. Com Dever, comemora 50 anos de carreira e deixa claro por que é um dos maiores poetas em atividade no país.

Na primeira parte, “Suíte”, o autor se detém em “casas, roupas, móveis etc.”, objetos do cotidiano que a princípio não teriam eco poético, caso não fossem, como afirma o autor, “dispostos de tal forma que sirvam para fins estéticos”.

A segunda, “Anexo”, já está na rua, é “jornalística”, mas sem abrir mão do transfigurador trabalho literário, dando conta dos eventos de antes e de agora, que atravessaram o poeta.
A terceira, “Numeral”, que desde 2003 é a coda dos livros de Armando, continua a passar em revista sua poética, sempre sujeita a retificações futuras.

É digna de nota sua capacidade de mesclar poemas íntimos, sobre a vida amorosa e familiar, a poemas que conversam com o noticiário contemporâneo, como o massacre da Candelária e o goleiro Bruno, e ainda dialogar com a novíssima poesia brasileira, como no poema feito a partir do último livro de Angélica Freitas, Um útero é do tamanho de um punho.

Num dos poemas do livro, o autor traça uma genealogia breve da literatura brasileira, propondo um elo entre Machado de Assis, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade, Antonio Candido e João Cabral de Melo Neto.

Armando Freitas Filho é sem dúvida um herdeiro dessa linha mestra da literatura brasileira.

:dance:

Apesar de não achar a poesia dele lá essas coisas, definitivamente sem a estatura dos grandes do século 20, isso vale uma campinada na livraria, hein?
 
Tô devendo um post aqui há um século, né? Ó, apenas digo o seguinte: eu falei, há uns seis meses, em algum tópico, que Angélica Freitas foi uma das melhores descobertas literárias que fiz neste ano. Gente, ela consegue fazer uma poesia política sem ser panfletária (mas eu curto ler coisa panfletária, também, podem me julgar). Ela transita por temas muito caros ao ser humano, uma das coisas que eu acho mais sublimes nos grandes poetas. Tenho os dois livros dela: "Um útero é do tamanho de um punho" (que é maravilhoso!) e "Rilke Shake" que, embora seja irregular, tem umas coisas muito boas.
 
Última edição:
Ó. O Ricardo Domeneck, um dos primeiros a descobrirem a Angélica e ele mesmo um bom poeta, especialmente um leitor de poesia contemporânea magnífico, tem uma série de textos onde ele aborda, basicamente, a literatura de minorias com a pretensa literatura universal. Por exemplo, qual a universalidade do cânone, sabendo que ele foi feito e é estabelecido por uma maioria branca heterrosexual? Podemos esperar algo de uma literatura feminina, negra, homossexual?

Os textos em si são ótimos, e o cuidado argumentativo é digno de nota. Acho que trazer isso pro tópico é interessante pois a Angélica contribui não exatamente com uma "literatura feminina", mas com uma poesia que questiona a condição feminina, o que não necessariamente deve vir de poetas mulheres, é claro, mas que se espera que venha -- o que nem sempre se dá pelo fato justamente de termos uma ideia de cânone, de neutralidade embasada em valores brancos e heterossexuais, comprometendo seja historicamente, seja de fato, questionamentos desse tipo.

Os textos:

GENDER/GENRE 1;
GENDER/GENRE 2.

Acho que o rumo da discussão pode ser resumido no finalzinho do texto 2:

Só a ingenuidade ou a má-fé afirmariam que a literatura de autores masculinos, brancos e heterossexuais como Jack Kerouac e Rubem Fonseca, ou de contemporâneos como David Foster Wallace e Joca Reiners Terron, é universal.

Interessa-me meditar sobre a maneira como estes autores questionam as categorias hierárquicas da Literatura, sem perder de vista seu trabalho, como diriam os literatos, formal.

(...)

Jamais sugeriria que o debate poético e literário "formal" seja suplantado por um mero debate de gêneros (ainda que a relação entre GENDER e GENRE ainda esteja à espera da crítica no Brasil), mas que este debate possa ser feito com uma maior consciência de sua contextualização histórica e política, sem a qual a poesia e a literatura retornam a uma mera instrumentalidade de formas, como simples prática de bom gosto, onde muitos hoje as querem.

Sobre poesia feminina, recomendo, sendo mais ou menos seu escopo, o texto Poética contemporâneas: A textualidade em algumas poetas brasileiras do século XX e início do XXI, também do Ricardo Domeneck.
 
Mais um capítulo para a recensão crítica sobre a obra da Angélica. Um crítico publicou (na verdade republicou) um texto sobre a poesia da Angélica, num juízo crítico negativo:

http://www.musarara.com.br/angelica-freitas

Ricardo Domeneck contra-argumentou em seu blog pessoal na DW (Brasil):

http://blogs.dw.de/contraacapa/?p=165

O resumo seria o de que o Domeneck achou a crítica misógina e inócua. Aí eu convidaria os colegas a lerem tanto um texto e outro para chegarem às suas próprias conclusões e, é claro, tomar partido.

O meu, por exemplo, é o #team Domeneck. O texto crítico de fato ficou muito fraco assim como outros textos críticos negativos sobre a poesia da Angélica costumaram ficar -- vide, da listagem que fiz acima, quem diz que a poesia da Angélica é de um feminismo ralo, quando a própria Angélica já disse que não quis escrever um "livro feminista" (o que não implica também que ela rechace o feminismo). Ou seja: são textos que não cumprem a função primordial de toda crítica, que é particularizar o caso de que trata, seja ela positiva, seja ela negativa. O que o texto na Musa Rara fez foi emitir um monte de juízos genéricos que não captaram as especificidades do texto. Pois, por exemplo, quando ele diz que a anáfora no poema da Angélica é fraca e que gera zero de informação (ou quase isso), ele "se esquece" que esse poema da Angélica vem da quinta parte do livro, "Três poemas com auxílio do Google" -- e assim, tomando como base que a mecânica do Google é anafórica, que a mecânica do preconceito é anafórica e que a mecânica de muitas piadas também é, nota-se que a repetição anafórica, se por um lado parece ser cansativa, é por si só uma fonte riquíssima de informação! Pra não dizer no fato de que, mesmo aceitando que a repetição anafórica resulte numa taxa de informação zero ou próxima de zero... Bem: isso é seria um puta efeito conseguindo pela Angélica, não concordam?
 
Nessas férias, eu li Um útero é do tamanho de um punho por indicação de um amigo que fez uma oficina com uma professora que é muito amiga da Angélica.
Enfim, o fato é o livro chegou nas minhas mãos e fiquei absolutamente encantado com a leveza dela, mesmo quando baixa a porrada!
Até então, não tinha mais nada dela pra ler... Até então!
Valeu, pelo excelente post, @Mavericco!
 
O que a Angélica Freitas fez, em Canções de atormentar (seu livro novo), não é para qualquer um. Escrever sobre coisas pesadas de um jeito leve, porém incisivo, é uma habilidade admirável.

[...]
é natal, carnaval, páscoa
nossa senhora aparecida e juízo final
ao mesmo tempo.
[...]

"o meu país era uma pamonha
que um alienígena esfomeado
pôs no micro-ondas".
queime-se.
é um epitáfio possível.
 

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