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Do Desafio de Laitahero

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Dilbert
Já fazia algum tempo que Fëaruin, seus filhos e seus companheiros haviam chegado a Grothbar, onde, com um povoado avar, começaram a viver. Ali, com aqueles que a maioria dos calaquendi consideraria selvagens, o noldo e os seus encontraram um pouco de sossego e alívio das dores de Beleriand e da guerra contra Morgoth.



Em Grothbar, Fëaruin e aqueles que vieram com ele eram venerados, mas não por serem elfos de glória incontestável, mas pelo valor que eles realmente demonstravam; ensinaram muito aos avari nos tempos em que se seguiram à sua chegada, já que eram mestres nos mais variados ofícios e na arte da guerra e da esgrima; e graças a esses ensinamentos, Grothbar tornou-se bela e magnífica, e seus amplos salões eram decorados com as mais belas obras dos avari, obtidas graças ao guio dos altos-elfos; e os próprios avari na Caverna da Morada cresciam em sabedoria e imponência, e se tornavam tão belos e fortes quantos aqueles que habitavam Beleriand no auge do poder de Thingol, e seu sangue começou a se misturar com o dos elfos do oeste, fossem sindarin ou noldorin.



E muita coragem e força Fëaruin e seus companheiros mostravam nos vários ataques daqueles homens orientais que estavam a serviço de Morgoth, pois, como narra o Silmarillion, eles foram o motivo para muitos elfos se refugiarem nas montanhas. Dos avari, havia apenas um que não se sentia honrado pela presença daqueles elfos forasteiros, e os desgostava; mas de Fëaruin, entretanto, ele sentia inveja e raiva; este era Laitahero, o Senhor de Grothbar, o mais alto dos avari de Grothbar, cujo cabelo era branco como a neve nos altos picos das montanhas. Ele era um alguém sábio e forte, mas arrogante, e cego para os feitos dos altos-elfos a prol dos avari, e também cego para a sua própria mesquinhez. No começo, entretanto, ele respeitava o noldo como igual, e com Fëaruin realmente muito conversou, e com ele muito aprendeu; agora, porém, essas memórias pareciam meras luzes em meio à sombra da mente de Laitahero, como chamas trêmulas de fim de velas que teimam em manterem-se acesas em meio à brisa. E ele começou a viajar, demorando-se cada vez mais, onde, longe, podia alimentar sua raiva por Fëaruin.



Então aconteceu de mais um exército de homens de maus propósitos marchar em direção a Grothbar; o levante de armas começou, e o exército daquele local se reuniu. Eram muitos elfos fortes e valentes, cujo valor no campo de batalha era inquestionável. Fëaruin e seus filhos não ousaram ficar de fora, pois se consideravam para sempre em débito para com os avari dali. Laitahero comandou o ataque, e Fëaruin o seguiu como no passado seguiu Fingon, e antes dele Fingolfin.



Os avari batalhavam com força assustadora, e agora tinham mais habilidade, e suas espadas eram mais afiadas do que nunca. Na noite escura, os olhos dos avari brilhavam como no manto do céu sem-lua. Os homens, contudo, eram numerosos demais, e os capitães de Grothbar ordenaram a retirada e o refúgio. Fëaruin aconselhou que seus filhos e seus companheiros também o fizessem. Laitahero havia desaparecido, e o noldo buscou em meio ao campo de batalha por ele e não o viu. E chamou por ele, sem resposta.

- Vou à busca de Laitahero. Mas vocês devem fugir. Vão, agora! – disse ele aos soldados e a seus filhos. E tão poderosa se tornou sua voz, que eles nem tentaram dissuadi-lo alertando do perigo. E ele correu na noite. Dois capitães dos avari, entretanto, o seguiram, mas não conseguiam alcançá-lo.

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Encontrou por fim Laitahero encurralado entre muitos homens e um grande rochedo; ele estava ferido e cansado, mas ainda combatia ferozmente os orientais. Fëaruin então chamou a atenção dos homens, que o olhavam na noite e tremeram, pois ele era alto e forte, uma figura bela e terrível de se contemplar. Mesmo Laitahero sentiu-se intimidado pelo noldo, que ergueu sua espada na noite fria.



- Essa é Valnáril – gritou ele aos homens – sua lâmina nunca fica manchada com nenhum sangue, nem mesmo com o vosso, que ela há de beber agora!
E com fúria, ele se atirou em direção aos homens, e aqueles que Valnáril não trespassou fugiram em desespero. Laitahero então se levantou, e os dois capitães que seguiram Fëaruin chegaram; e eles haviam visto tudo e se impressionaram, e reverenciaram o noldo. Mas Laitahero o fitou com desdém. Fëaruin observou Laitahero com estranheza, pois ele estava bem, não estava ferido, e o cansaço mal parecia tê-lo alcançado. Não disseram palavra alguma um ao outro, porém, e os quatro então marcharam de volta a Grothbar.



Assim que lá chegaram, foram recebidos com felicidade, pois todos ali estavam ansiosos pelos destinos daqueles dois grandes senhores élficos. Os dois capitães, então, narraram o acontecido com orgulho; dizendo da coragem e da fúria de Fëaruin – Pois os olhos de Amanon brilhavam como as mais brilhantes das estrelas! – eles diziam. E Fëaruin às vezes encabulava-se, pois nunca desejou a glória somente para si.



Mas os elogios insuflaram os sentimentos egoístas de Laitahero, e seu ódio secreto foi alimentado. E ele desembainhou sua espada negra no salão sagrado de Grothbar e a apontou na direção de Fëaruin.

- Calaquendë! – urrou ele, e em seus olhos chamuscava um brilho rubro, e a força de sua voz poderosa fez o salão se silenciar – Com qual autoridade vens até a minha morada e com qual tamanha ousadia tenta tomar o meu poder? Ao invés de lentamente levar o meu povo, luta agora comigo, somente eu e tu, pela liderança desses que o saúdam. Onde está tua coragem agora, ó Amanon, o Usurpador? Desafio-te!

Todos ali estavam desatinados com a atitude arrogante e mesquinha de Laitahero para com Fëaruin, que salvara a sua vida. O noldo, entretanto, tinha a cabeça baixa e o rosto triste, como se já esperasse aquilo.

- Diz, Laitahero, Senhor de Grothbar – disse Fëaruin finalmente - Há quanto tempo foste dominado pela Escuridão? Há quanto tempo fala Morgoth pela tua boca? Pois tua voz é como o fel de negras serpentes, e, pelos teus olhos, vejo agora claramente tua traição, atraindo os servos de Morgoth Bauglir ao nosso encalço.

Laitahero então gargalhou um riso insano e incontrolável – Morgoth? – indagou – Esse que chama de Morgoth nada tem com isso, a não ser por ter sido responsável por tua chegada aqui, onde hás de tombar por fel algum, senão a lâmina de minha espada! - E se lançou na direção de Fëaruin, que desembainhou Valnáril, e os dois iniciaram um combate terrível. Ninguém ousava tentar interferir. E eles bateram espadas por longo tempo até que se separassem por um momento.

- Não ousei usurpar teu poder, Laitahero, és o líder e sempre te segui e seguirei por isso – disse Fëaruin com a voz calorosa; mas o coração gelado de Laitahero o ignorou enfaticamente.

- Muito fala da tua amada, Amanon, mas nunca soubeste como ela morreu. Quão triste saber que foi incapaz de impedir o fenecimento de alguém tão importante para ti! – rompeu seu silêncio Laitahero, mas tinha maldade na sua voz – Pois creio eu que tua casa foi maculada e derrubada em meio à sujeira dos orcs, e tua esposa foi por eles violentada até a morte, gritando como uma cadela no cio.
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Quando Laitahero disse isso, Fëaruin o encarou com uma fúria indescritível, e seus olhos brilhavam com um fogo branco e terrível, e Laitahero sentiu-se atordoado; e Fëaruin viu nele a mesma maldade, o egoísmo e a malícia que parasitavam os servos de Morgoth, sentimentos que o próprio avar desenvolvera a partir de sua tola inveja; e o elda percebeu que Laitahero sempre o invejara por quem ele era, e não por nada que ele tenha feito. Então, o noldo avançou sobre o avar com tamanha ira que seus olhos brilhavam, e o avar mal conseguia conter a força dos golpes de seu adversário. Para os presentes, parecia que Fëaruin crescia enquanto Laitahero diminuíra, e uma luz pálida parecia emanar dele, como se seu próprio espírito estivesse queimando. À volta de Laitahero, porém, as sombras pareciam se tornar mais escuras e densas, assim, aos olhos daqueles que observavam, parecia o confronto da Luz impoluta contra a Escuridão nefasta.



O combate prosseguiu, até que Fëaruin deu um golpe de espada que Laitahero tentou bloquear, mas a lâmina de sua espada negra não resistiu e estilhaçou em vários pedaços, e seu braço foi profundamente ferido; a força do golpe fê-lo cair no chão, e então ficou à mercê de Fëaruin, que se aproximou enquanto Laitahero encolheu-se, e tremia em pavor.

- Nunca pensei que um quendë pudesse ter um caráter tão deplorável, uma conduta moral tão mesquinha, uma pequenez sem tamanho! Víbora! – bradou o noldo, que, pela primeira e última vez, falou a alguém com desprezo - Teus atos não são mais dignos que os de Morgoth em pessoa! E deste momento em diante amaldiçôo-te, e chamar-te-ei Elfo-negro, o Traidor Nefando, o dejeto duma raça que sempre se orgulhou de sua sobriedade e sapiência. Sumi daqui, agora!

Laitahero então se arrastou para fora, e os avari, como se despertos dum encantamento, chamavam-no de ingrato e lacaio da Escuridão, amaldiçoando-o; e ele correu noite adentro como um cão sem dono e sem rumo. Fëaruin, entretanto, não olhou, em nenhum momento, na direção de seu inimigo, que, humilhado, para sempre nutriria ódio eterno daquele alto-elfo.



Por muito tempo Fëaruin permaneceu na mesma posição, com os olhos fechados e pensativos. Quando finalmente se virou, disse que eles deviam partir dali, pois os servos de Morgoth já sabiam daquele local, pois se Laitahero ainda não havia traído seus próprios parentes, ele o faria agora, e era apenas uma questão de tempo até que Grothbar fosse atacada com tal força que eles não podiam conter; muitos estavam feridos. Com pesar, os avari abandonaram sua morada, mas as palavras de Fëaruin mostraram-se verdadeiras, e logo depois que abandonaram a Caverna, ela foi invadida e destruída por uma multidão de orientais.

Aquele povo então elegeu Fëaruin como novo líder, e mesmo assim, custou para que o noldo aceitasse, pois não se considerava digno. “E além de te escolhermos, nosso antigo líder chamou-te a um desafio pela liderança, e tu foste o vencedor; é teu direito” diziam os avari. Mas Fëaruin só aceitou se tornar líder porque os avari o escolheram e não queriam mais ninguém, insistindo para que ele os chefiasse; e ninguém lá, eles diziam, podia rivalizar com a força e sabedoria de Amanon. E, além disso, Fëaruin jamais quis reinar por eles pelo direito ganho numa peleja maldita e furiosa, e a esse direito ele renunciou, e reinou pelo amor que tinha pelos avari, e pelo amor que os avari tinham por ele, chamando-o de Alto-rei.

Para Fëaruin, foi como se a Condenação de Mandos houvesse tomado a forma de um quendi, pois ele soube que Laitahero sempre o perseguiria até o fim do mundo, assim como a Condenação também faria, e mesmo que o noldo se evadisse de Laitahero e da Condenação, cedo ou tarde seria por eles encontrado.<o:p></o:p>
 

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