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Copa 2014 “A barra vai pesar na Copa do Mundo”, diz o escritor Paulo Coelho

Clara

Perplecta
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Em entrevista à revista Época, Paulo Coelho, convidado VIP da Fifa, diz que não irá assistir aos jogos em estádios e não acredita que o Brasil ganhará a Copa.

(...)Ele concedeu esta entrevista exclusiva em seu apartamento em Genebra, na Suíça. Enquanto realizava várias tarefas simultaneamente (computador, arco e flecha e orações)*, abordou os mais variados assuntos, do seu desagrado com o Brasil atual aos avanços do papa Francisco. Não visita o Brasil oficialmente há uma década, nem pretende comparecer à Copa do Mundo, apesar de ser convidado vip da Fifa. Mesmo torcendo pelo Brasil, ele faz previsões não muito otimistas em relação ao evento. Além de temer o aumento da violência dos protestos em torno dos estádios, ele não aposta que o Brasil vai ganhar a Copa. O Brasil corre o risco de ter uma grande decepção. O tema que predominou nessa conversa que durou seis horas foi o de sua predileção: a arte de contar histórias. E sobre isso ele tem muito a ensinar aos desnorteados autores brasileiros. Esta é provavelmente a entrevista mais longa de Paulo Coelho já publicada.

Época - Houve algum motivo forte para o senhor se afastar do Brasil?
Coelho - Faço questão de ser brasileiro e adoro o meu país. Sou um exilado cultural do Brasil. O país me decepciona em vários sentidos. Ele foi dominado por uma onda de conservadorismo que despreza as conquistas do povo, como os direitos trabalhistas para as empregadas domésticas e a mobilidade dos trabalhadores, como as faixas de ônibus, que acho totalmente justas. O trabalhador tem que sair de casa longe e aí tem à disposição a faixa de ônibus. E as pessoas ficam furiosas porque tem engarrafamento. Ora bolas. Respeite o trabalhador, pegue o ônibus. É o que a gente faz aqui: o ônibus com horário e ninguém vai roubar. A classe média brasileira se sente desprivilegiada porque a empregada e o trabalhador têm direitos. Este é um direito básico de qualquer pessoa, o direito ao transporte. Na Suíça, você pode sair de carro. Mas o sinal só deixa passar dois carros por vez. Em um mês de carro em Genebra você não aguenta mais. Aí pegar ônibus é mais confortável. É alucinante ir ao centro de carro. O táxi e o ônibus têm privilégios. Estou muito contente de morar em Genebra, e todo mundo me critica.É uma cidade sem muitos atrativos, mas adoro aqui. O fato de ter dois apartamentos aumentou o imposto, mas tudo bem.

Época - O senhor pretende ir à Copa?
Coelho - Não. Eu tenho convite da Fifa, mas não vou à Copa. Eu tenho ingresso, e você não pode passar o ingresso para outro, quando você é brasileiro, que é o meu caso, porque tem o número do imposto de renda. Nunca sonhei nem quis a cidadania Suíça. Prefiro aguentar tirar visto americano a deixar de ser brasileiro. Quero ser brasileiro até o final dos meus dias. O que mais decepcionou foi o governo brasileiro. É profundamente legítimo que o Brasil mostre ao mundo a situação atual do governo brasileiro. E isso ocorrerá durante a Copa, quando todos os olhos estarão voltados para o Brasil. Isso não será uma coisa negativa. Seria contraditório com meus princípios ter meus ingressos, estar lá dentro, sabendo o que está acontecendo lá fora. Já que o foco vai estar no Brasil, são mais justas as reivindicações que são feitas.

Época - O que está acontecendo no Brasil, de bom e ruim?
Coelho - No lado bom, o governo aumentou a qualidade de vida do brasileiro. Há milhões de pessoas que saíram da linha da pobreza. É um processo que vem dos tempos de Fernando Henrique Cardoso. O Brasil vem melhorando a qualidade de vida dos cidadãos. Por outro lado, existe um descaso. O poder cega. Você só vê as coisas boas e não as negativas. Acontece um aumento brutal da violência nas cidades, injustiças que vêm acontecendo, corrupção. Enfim, não preciso enumerar zilhões de fraudes. Falta de infraestrutura.

Época - A Copa não é positiva para o Brasil?
Coelho - Eu era um dos idiotas que acreditavam que a Copa do Mundo melhoraria a infraestrutura do Brasil. Eu vi isso em Barcelona nos Jogos Olímpicos. Barcelona é antes e depois dos Jogos Olímpicos. Lutei pela entrada no Brasil em comitês na Copa e nas Olimpíadas. Nunca mais. A barra vai pesar na Copa. A Copa será um foco de manifestações justas por um Brasil melhor. Os protestos vão explodir durante os jogos porque vai haver mais gente fora do que dentro dos estádios. Espero que isso ajude a mudar o Brasil. Isso dará visibilidade ao brasileiro e ao estrangeiro. O Brasil não está despedaçado por causa das manifestações. Mas ele está longe de ser aquela coisa que o governo pinta. Temos problemas estruturais que vão estourar ainda, problemas econômicos básicos. Chegará o momento em que alguém vai apresentar a conta. Eu me sentiria profundamente constrangido de assistir a jogos de futebol com o Brasil vivendo tantos problemas. Pode ser que eu vá, mas para ver os jogos na televisão.

Época - Ser convidado especial é muito bom, não?
Coelho - É maravilhoso. Você tem bufês fantásticos, vai de ônibus especial, você janta, encontra pessoas. É uma sensação tão maravilhosa. É uma delícia. Mas tenho de ter uma posição política.

Época - O Brasil tem chances de vencer a Copa?
Coelho - Não sei. Eu torço pelo Brasil. Tem um ótimo time. Eu já cravei muito resultado. Disse a Época que o Brasil ia ganhar a Copa das Confederações e ganhou. Eu previ Brasil e França – o L’Express cravou na capa e eu acertei. Agora não sei. Certamente o Brasil irá à final com a Alemanha ou a Espanha, duas seleções fortíssimas nesta Copa. A Argentina não. A Suíça vai surpreender. Eu ousaria dizer que a Suíça vai para as quartas. No futebol, você tem que ser otimista, não tem outra escolha. O Brasil tem chances de não ganhar.

Época - As manifestações de rua vão aumentar durante os jogos? Ou o clima será de panis et circenses?
Coelho - Não chega a ser assim. Para o exterior isso pode ser. A Copa é a coisa mais importante do mundo. O brasileiro está muito mais consciente. Para o Afeganistão, a Copa vai ser panis e circenses. Ainda espero que o circenses interfira no panes no Brasil.

Época - A Fifa prometeu conforto ao público.
Coelho - Pois é, prometeu reservar ingressos para incapacitados e pessoas com problemas de mobilidade. Fifa não cumpriu o que prometeu. O Romário denunciou isso. O Brasil vai contar com polícia e repressão violenta.

Leia aqui a entrevista completa.

* Não entendi isso, ele deu entrevista enquanto orava, atirava flechas com o arco e digitava? :think:
 
Goste-se ou não dos livros dele, Paulo Coelho defende eles e suas outras opiniões leoninamente em entrevistas, e isso basta para que se haja um bom entrevistado.
 

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