frases de pessoas que sequer são leitores da tpm ou da cláudia ou nova ou capricho ou whatever, já que são homens falando. homens para quem, infelizmente, algumas mulheres querem ficar "bonitas". então assim: acho fácil chegar e dizer "ui, tpm só tem menina que pode pagar pra ser bonita, cadê as pessoas normais? (ou seja, feias, né, porque qual é o oposto de bonito para a autora do artigo?)
Bom, a garota não ser bonita não significa ser necessariamente feia. O que ela quis dizer com 'normais' é sobre garotas fisicamente sem atributos físicos relevantes, 'mais uma cara na multidão', penso eu.
é um troço imbecil, que acho que funciona meio que num esquema de um alimenta o outro. as revistas expõem o que o público quer ver, o público quer ver aquilo porque é o que vê nas revistas e assim segue. e aí a menina vem dizer que é "feminismo de farmácia" a tpm questionar parte desse sistema? para mim, feminismo de farmácia é reduzir a coisa toda a uma questão de quem é bonito pagando ou quem não é, como ela acabou fazendo no texto (vide o trecho que citei). não é questão de ser bonito ou ter dinheiro. não deveria ser. deveria ser questão de estar bem consigo mesmo, sem que isso soe a pura demagogia. enquanto o raciocínio ainda for "menina bonita na capa x menina normal (aka: "fora dos padrões de beleza"), para mim é tudo a mesma porcaria e ela no final das contas está no mesmo time das feministas de farmácia que está acusando a tpm de estar.
enfim, não sei se ficou claro. não discordo de questões que ela aponta ali. só acho que ela seguiu uma linha meio errada para desenvolver o raciocínio.
Chamo isso de 'caçar pêlo em ovo'.
A tentativa de reverter a
ditadura da beleza por outra ditadura, a da
não-beleza. Ou seja: se o mundo massacra milhares de mulheres, usando a mídia pra marretar-lhes na cabeça um conceito de beleza padronizada e inatingível, as feministas fundamentalistas crucificam, criticam e desqualificam automaticamente as que tiveram o 'infortúnio' de nascer belas, ou a tentativa de uma garota comum de querer se sentir bonita, acusando-as de ser fúteis e superficiais. O problema é justamente a tendência das 'feministas de farmácia' levar a questão para o lado do oito e do oitenta, sem um meio termo razoável.
Já há um tempo a Dove vem me enchendo o saco com essas propagandas "politicamente corretas", disfarçadas de valorização da mulher, mas que só servem mesmo para reforçar a ideia de que para ser feliz você precisa comprar este ou aquele produto e ficar bonita. Você pode ser baixa, você pode ser alta, gorda ou magra, mas tem que ser bonita. Tem que se achar bonita, tem que gastar tempo e dinheiro para ficar mais bonita, tem que ser bonita pra ser feliz.
A beleza é uma exigência, uma ditadura cruel. E não são só os padrões de beleza impossíveis das capas de revista que nos oprimem.
É claro que a Dove tem que vender, daí tem que identificar ou criar a necessidade do próprio produto, mas me incomoda que as coisas sejam mascaradas assim, que os vídeos sejam tão bem feitos que bata aquela vontade de deixar a lagriminha da emoção correr solta. Porque e a pessoa que é feia mesmo, tipo, que não tem conserto? E a mulher que acordou atrasada e não teve tempo nem de pentear o cabelo? E aqueles dias em que estamos sem saco nenhum? Que tem muita louça pra lavar? Que não tem dinheiro pra fazer a unha?
Eu não quero ter o direito de me sentir bonita como eu sou, eu quero ter o direito de não precisar ser bonita, independente de como eu seja. Eu quero que o fato de eu ser bonita ou não seja irrelevante. Eu quero viver em um mundo em que o que eu faço ou o que eu sou é mais importante do que minha aparência. Que eu possa sair nas páginas de qualquer revista por ter um projeto de estímulo à leitura muito bacana (ou whatever) mesmo sendo feia.
Pode parecer piegas, mas pensa nas crianças que estamos criando? Pensa em como nos dirigimos à elas e que tipo de elogio distribuímos naturalmente? "Que linda!", "Que bebê bonito", "Ah como você está linda com esse vestido de princesa!". Força, caráter, inteligência, senso de humor, etc, só são introduzidos como qualidades desejáveis na vida das meninas, principalmente, mais tarde. Ao invés de ensinarmos às meninas que mesmo não sendo magras ou bonitas elas são dignas de respeito, nós criamos escolas de princesas.
Seu comentário me lembrou esse texto de Lisa Bloom,
'Como conversar com meninas'. Acho que foi no CdL que ele foi postado inicialmente, não?
Homem não precisa ser bonito. Anseio pelo dia em que as mulheres também não.
Fica o meu salve para a Pretinha.
O que a maioria não compreende é que a tal 'ditadura da beleza' oprime tanto mulheres belas - que espera-se que sejam ainda mais belas e não envelheçam nunca, criando essas paranóias horríveis entre famosos que vemos internet afora - quanto mulheres desprovidas de beleza física, que são diariamente bombardeadas com ordens subliminares de que só terão sucesso na vida se forem belas. Isso é cruel, para ambas as partes.
Feminazis partem de um raciocínio aceitável até certo ponto: de que
mulheres fisicamente belas têm mais oportunidades no mundo real. Isso é notado (in)sensivelmente no mercado de trabalho. Já perdi uma proposta de trabalho para uma loira peituda, por exemplo. Não que ser loira e peituda significasse que ela fosse menos capaz, mas o fato de ela o ser foi o diferencial. Num mundo onde um ou dois botões desabotoados na blusa são o diferencial que conta, acima de caráter e capacidade, a beleza física ou sua ausência atingirem um patamar de irrelevância é totalmente utópico por ser o ideal, pois derruba 'a necessidade premente, indiscutível e indispensável de ser bonita' versus a 'demonização daquelas que buscam se sentir melhor consigo mesmas buscando soluções de beleza'. Elas perdem a mão num certo ponto de crucificar pessoas que são belas e bem sucedidas, como se em 100% dos casos isso acontecesse
só pelo fato de serem belas. Chega a ser surreal, para elas, pensar que
essas pessoas possam realmente ter algum talento e inteligência. Isso cheira fortemente a recalque e complexos mal resolvidos.
Até lá, viveremos no meio de um tiroteio entre a mídia opressora versus o fundamentalismo ideológico feminazi, tentando tirar algo de bom disso tudo.
Sua citação do uso baixo do apelo emocional em Dove foi muito oportuno. Ele 'cutuca' as feridas emocionais de milhares de mulheres, apelando para o ego, e mesmo mascarando a mensagem como 'ame-se como você é', incute o 'mesmo sendo o que você é, gorda, feia e manca, use nossos produtos pra tentar elevar tua baixa autoestima'. Sei que é cruel, baixo e soa triste, mas é genial. E vende.
Quando são, né?
Mulher inteligente e com senso de humor é valorizada?
Depende de muita coisa. Principalmente das pessoas e do ambiente onde você está.
Talvez se for atriz, escritora, mesmo assim a gente ouve uns preconceitos rolando por aí.
São bacanas pra "bater um papo", "trocar umas ideias", mas a maioria não gosta muito, não.
E não falo só na questão namoro e casamento, falo também de emprego e estudos, etc.
Fato, Clara. Senti isso tudo o que tu disse na pele, na vida pessoal e na profissional (claro, se olvidarmos o inferno em Terra chamada 'vida escolar'
).
Para a maioria dos caras chegar a se interessar pela inteligência e senso de humor de uma mulher, são três as ocasiões: 1) ele a conheceu antes de vê-la, 2) ele a conheceu antes de vê-la, gostou de sua personalidade, seu senso de humor e inteligência, até ver sua foto (aliás, isso é típico de relacionamentos por internet: ele pode ter adorado tudo isso, mas se o que ele viu na foto/cam não agradou, ele some ou friendzona permanentemente) e 3) ele ficou amigo dela por um tempão, conviveu muito tempo a ponto de conhece-la a fundo e algo brotou. Ainda assim, ele está condenado pelo resto da vida a ouvir piadinhas do tipo
'mulher feia é que nem pantufa' dos amigos. Isso também se aplica às mulheres, felizmente em menor proporção.
A parte dos 'preconceitos rolando por aí' até me lembrou uma história sobre a vida de Marisa Orth. Até atingir o alto escalão no teatro e na TV, ela era tímida e reservada por não ser uma mulher necessariamente bonita. Foi quando descobriram que ela era 'gostosa'. Mesmo assim, quando se pergunta pro brasileiro mediano sobre Marisa Orth, ele não fala do talento ou do trabalho dela, mas que ela é
'gostosa pra caralho. Feia de cara, mas gostosa'.
A questão é que, por mais que estejamos conscientes e lutemos contra essa tendência podre, opinar pelo esteticamente agradável está entranhado em nossos genes.
A mídia sabe disso, usa contra nós e a maioria não percebe que essa manipulação tem o único objetivo de incentivar o consumo puro e simples. É quase involuntário comentarmos que 'fulana está linda para a idade' se ela tem sessenta anos com cara de trinta (mesmo que isso seja totalmente antinatural), ou 'que modelo derrubada escolheram pra propaganda do Torra-Torra' se a garota não for magra e linda, por exemplo.
Isso acontece porque todos nós desenvolvemos, ao longo de nossa formação e de forma totalmente inconsciente e subliminar, um senso estético particular que obedece a determinados padrões. Eles são construídos e lapidados pelas referências visuais obtidas pelos sentidos, que em nossa geração são
verdadeiros bombardeios gentilmente providos pela mídia desde muito cedo. A diferença é que elas podem ou não mudar de acordo com a fase em que vivemos, as experiências individuais e os conceitos que formamos ao longo da vida, fazendo com que se afastem ou não dos modelos primários preestabelecidos. As decisões decorrentes dessas comparações 'inconscientes' e comentários 'involuntários' são puro hábito e reflexo condicionado.
Ter consciência disso é difícil, mas é o primeiro passo para lutar contra. O problema é que a maioria esmagadora da massa que compõe nossa sociedade muderna é absurdamente permeável a essas sugestões. Será uma luta difícil.