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George R. R. Martin conta como descobriu J. R. R. Tolkien

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George R. R. Martin, o famoso autor da ótima série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo (Leya), cujos textos servem de base para a bem-sucedida série de TV da HBO, Guerra dos Tronos, falou recentemente com a revista Rolling Stone sobre o início de sua paixão por escrever, livros e HQs que leu, autores preferidos e como descobriu J. R. R. Tolkien, o autor que exerceria a maior parte das influências que motivaram Martin a escrever e criar mundos e personagens fantásticos. Abaixo, o depoimento do autor norte-americano sobre Tolkien.





Quartana, um dos fanzines que eu esperava escrever, estava abrangendo principalmente espada, magia e fantasia. E tinha uma história de um cara inglês, Tolkien, e sua história sobre hobbits e anéis. Parecia legal para mim, então quando a primeira edição de Tolkien da [Editora] Ace foi pirateada e saiu em paperback, eu agarrei-a. Tive um misto de reações quando comecei ler. Eu estava no segundo ano do ensino médio nesta época. E pensei: isso é algo como Conan? Que diabos é tudo isso? Ei, não, não, gente pequena com pés peludos fumando erva num cachimbo. Conan sempre aparecia com uma mulher seminua e uma cobra gigante [risos], e eu estava procurando pela cobra gigante. Mas quando cheguei aos Cavaleiros Negros e Bree, eu fiquei viciado, e quando terminei A Sociedade do Anel, Tolkien tinha se tornado o meu escritor favorito, finalmente derrubando Robert Heinlein e Andre Norton do topo.

Ao ler O Retorno do Rei, eu não queria que ele acabasse. Esse último livro explodiu minha mente, particularmente o capítulo O Expurgo do Condado. Eu não gostava dele quando eu estava no colégio. A história acabou, e eles destruíram o Anel – mas ele [Tolkien] não escreveu “e agora eles viveram felizes para sempre”. Em vez disso, eles foram para casa e a casa estava toda ferrada. Os caras maus tinham queimado tudo; algo como uma tirania fascista tinha se instalado. Isso pareceu um anticlímax para mim. Frodo não viveu feliz para sempre ou se casou com uma boa garota hobbit. Ele estava permanentemente ferido; ele ficou acabado. Como um adolescente de 13 anos, eu não conseguia entender isso. Agora, cada vez que eu volto a ler O Senhor dos Anéis – algo que faço de tempos em tempos – agradeço pelo brilho do Expurgo do Condado. Isso é parte do que eleva o livro acima de todos os seus imitadores. Houve um custo real para o mundo de Tolkien. Há uma enorme tristeza no final de O Senhor dos Anéis, e isso tem poder. Acho que é isso, em parte, que faz com que as pessoas ainda estejam lendo e relendo os livros.

No momento em que terminei O Senhor dos Anéis, ele realmente me deprimiu um pouco, porque eu não achava que poderia fazer qualquer coisa com esta estatura. Felizmente, eu superei isso.

Agradecemos a dica do leitor Dimitri B. de Araújo!

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Última edição por um moderador:
Felizmente mesmo! Tivesse Martin não superado seu medo de jamais escrever nada aos pés de Tolkien não teríamos GoT.
Legal ver a admiração dele pelo Tolkien e sua reação ao Expurgo do Condado.
Para mim é a mesma coisa, o Expurgo é um choque de realidade, muito mais enriquecedor de o livro tivesse acabado com um final feliz simplório.
Entrando em questões mais profundas, o ferimento de Frodo era essencial, não só os físicos mas o causado pelo anel, para manter a verossimilhança do universo e mandá-lo para Aman.
Enfim, legal ler isso do Martin.
 
As seções de entrevistas são uma das melhores coisas que podem acontecer a uma publicação, mesmo que não seja uma publicação que eu desgoste porque pode ser sobre um tema estimulante que vale dar uma espiada.

E neste texto eu percebo curioso a forma que o escritor de Game of Thrones capturou a emoção final da conclusão do livro SdA como sendo tristeza (da parte de sua relação como eco do passado dos 13 anos e que ainda influencia os livros atuais dele).

A interpretação atual que faço do Silma é de que, apesar de haver a tristeza local momentânea de Frodo, o final de SdA foi acertado e coerente com o fato de que as esperança final dos homens não devia residir, desde o princípio, aqui nesse mundo, aonde foram vistos como forasteiros, mas da perspectiva eterna adequada a Eru e seus filhos. O que significa dizer que a tristeza de Frodo na verdade era motivo verdadeiro da festa porque voltaria em dobro quando chegasse a hora do "pagamento" do dom de Eru (nos apêndices).

O caso do finalzinho de ORdR me lembra um filme póstumo de espadachins do Akira Kurosawa chamado "Depois da Chuva". Naquele filme o diretor não termina a história de forma imediatista, que via de regra usa apenas uma declaração final contida em si mesma e completamente resolvida para fechar a conclusão. O final do filme "Depois de Chuva" segue outro ritmo de contagem de história em que nem todas as pontas devem ser fechadas para que o final seja um gancho ou esperança para ser acabada na mente do observador.

Que é o mesmo recurso usado em SdA, da velocidade de como ocorre na vida em que existem também becos e interrogações com questões em que as pessoas podem até morrer se debatendo sem conseguir deixar tudo resolvido.

Entretanto, nem todos se acostumam a ler uma obra que termine com um ponto de interrogação ou mesmo com tramas paralelas que não voltem a ser mencionadas porque é possível que muitos saibam esperar apenas de um jeito. Mas vale a pena aprender a esperar (ou depositar esperança nas coisas) de outros jeitos, porque essas outras formas também podem ser muito bem executadas não apenas especificamente, como aquilo que se propõem, mas como uma forma legítima de entretenimento.

Por sinal o reflexo da impressão final do livro de Tolkien sobre Martin parece ser evocado no fatalismo dos livros da série de GoT (Tolkien se tornara seu escritor favorito). Então ele quis falar de tristeza final e desesperada, como num game rpg em que os soldados morrem mas são apenas números, vazios de lembrança e significado podendo servir até para se espremer o entretenimento. Nesse ponto o estilo de Tolkien diverge de Game of Thrones.

Principalmente o final que Martin planeja para a série tende a seguir muito do emocional contido nesse texto que precisa oferecer coerência com o universo anárquico, de um mundo distópico, em processo de fragmentação. Diferente de Tolkien que apresenta no mesmo universo tons de utopia, realidade e até a distopia de Martin. Em razão disso é marcante notar que GoT é mesmo uma especialização de um gênero, ou derivado de uma área ampla.
 
Ótima entrevista! E o Martin parece que pegou a essência da obra de Tolkien: criar uma história fantástica, mas que não coloca o leitor na pele daquele herói frágil que fica foderosamente fodônico no fim da saga (algo que acontece em demasia em livros com protagonistas adolescentes). Nenhum embate físico é descrito ou glorificado em SdA e em GoT os protagonistas morrem, deixando o leitor totalmente desamparado e com uma noção de perigo que poucos autores conseguem imprimir a um livro de fantasia.
 
Gosto muito dos dois autores. Claro, conheci primeiro o Tolkien e sempre gostei muito de sua escrita. O George Martin eu conheci faz pouco tempo, gosto, mas as vezes eu fico com um pouco de raiva dele.
 
Aí tem um texto que o G.R.R. Martin escreveu pra apresentar o Tolkien em Meditations on Middle Earth
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Anexos

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Principalmente o final que Martin planeja para a série tende a seguir muito do emocional contido nesse texto que precisa oferecer coerência com o universo anárquico, de um mundo distópico, em processo de fragmentação. Diferente de Tolkien que apresenta no mesmo universo tons de utopia, realidade e até a distopia de Martin. Em razão disso é marcante notar que GoT é mesmo uma especialização de um gênero, ou derivado de uma área ampla.

Creio que, nesse ponto a comparação deveria ser feita não com a época em si da Guerra do Anel , onde a nossa perspectiva como leitores nos coloca a par da Esperança ( Estel) representada por Aragorn, Gandalf e o Um Anel perdido no Shire mas, sim, com os meados da Terceira Era onde a dinastia de Gondor findou e os reinos de Arnor se fragmentaram a la Rei Lear do Shakespeare. A ambientação do SdA até a "virada" ( the turning of the tide) da história, a Eucatástrofe tolkieniana é, sim, distópica. É a narrativa em si que não passa essa impressão pq se centra nos personagens que são os "veículos" e instrumentos da "Providência" de Eru pra redimir a Terra-Média do Mal de Sauron e do resquício morgothiano do Anel do Poder.

Uma visão analógica mais aproximada ainda é comparar a destruição entrópica e até fratricida das casas reais dos Eldar e Sindar de Beleriand, justamente na época em que todos deveriam ter se unido contra a tirania de Morgoth em Angband e sua Terra, Dor-Daidelos, no norte da Terra Média, com todo o contexto de GoT ( em si mesmo com análogos já influenciados por MST ( Nakkiga no norte , terra dos Norns ( elfos negros albinos) e o The Blight do The Dark One de Wheel of Time)....
Todo esse contexto distópico indicativo de uma "Wasteland" onde a própria terra adoece e os invernos ficam mais rigorosos sob a influência perniciosa do Sobrenatural já está no Silmarillion que já havia influenciado Narnia onde o Reino da White Witch era um reino onde "era sempre inverno e nunca Natal"...

Então, a meu ver, a Quenta Silmarillion é a EPÍTOME suprema de um universo "anárquico" em processo de fragmentação. Vide a traição dos homens no meio da Nirnaeth, a destruição de Doriath, o saque de Gondolin por causa da deserção de Maeglin, as consequências das "Andanças de Húrin" e as chacinas fratricidas promovidas pelos filhos de Fëanor. A própria terra de Beleriand, até no ato de ser "salva" é literalmente "fragmentada"e engolfada pelo mar,

Então, como bem observou, uma vez já, o Inrahil, Tolkien é até mesmo mais influente em GoT por causa, direta ou indiretamente, do Sillmarillion do que do SdA, onde a "distopia" do Expurgo do Condado é a regra e não a exceção ou epílogo do livro em termos de narrativa. Lá, a Eucatástrofe de Beren e Lúthien é uma relativa"pausa" no Morticínio, chacina e traíragem do resto da saga ( e tratada como tal logo na introdução da história, textualmente, pelo próprio autor).

Among the tales of sorrow and of ruin that come down to us from the darkness of those days there are yet some in which amid weeping there is joy and under the shadow of death light that endures. And of these histories most fair still in the ears of the Elves is the tale of Beren and Lúthien. Of their lives was made the Lay of Leithian, Release from Bondage, which is the longest save one of the songs concerning the world of old; but here is told in fewer words and without song.

Porque, mesmo considerando a tênue possibilidade de que Martin nunca tenha lido o livro, Tad Williams, de Memory, Sorrow and Thorn ( MST), que foi, admitidamente, o modelo de fantasia medieval moderno pós Tolkien mais "ativo" pra ASoIAF, chegou a chamar uma cidade do reino da saga de "Kementari" e modelou o seu Senhor das Trevas numa visão antípoda de Fëanor.

O caso do finalzinho de ORdR me lembra um filme póstumo de espadachins do Akira Kurosawa chamado "Depois da Chuva". Naquele filme o diretor não termina a história de forma imediatista, que via de regra usa apenas uma declaração final contida em si mesma e completamente resolvida para fechar a conclusão. O final do filme "Depois de Chuva" segue outro ritmo de contagem de história em que nem todas as pontas devem ser fechadas para que o final seja um gancho ou esperança para ser acabada na mente do observador.

Que é o mesmo recurso usado em SdA, da velocidade de como ocorre na vida em que existem também becos e interrogações com questões em que as pessoas podem até morrer se debatendo sem conseguir deixar tudo resolvido.

Entretanto, nem todos se acostumam a ler uma obra que termine com um ponto de interrogação ou mesmo com tramas paralelas que não voltem a ser mencionadas porque é possível que muitos saibam esperar apenas de um jeito. Mas vale a pena aprender a esperar (ou depositar esperança nas coisas) de outros jeitos, porque essas outras formas também podem ser muito bem executadas não apenas especificamente, como aquilo que se propõem, mas como uma forma legítima de entretenimento

Concordo plenamente... as unnatainable vistas de Tolkien, reconhecidas e emuladas por Joe Michael Straczynski em Babylon 5 e Walter Simonson no Thor além do próprio mencionado Tad Williams. Isso, com certeza, que tb acontece muito até no Silmarillion( paradeiro e origem de Ungoliant, o destino dos irmãos de Elwing, como Beren sobreviveu à travessia de Nan Dungortheb, o que houve com Valandil , pai de Elendil, onde foram parar Tuor e Idril e por aí vaí)

  • JMS says: Dear Mr. Tolkien:
    I just wanted to say that I think the way you ended THE LORD OF THE RINGS was crap. You didn't provide any closure. Instead of spending time with the hobbits clearing out the shire (come on, urban renwal in LoTR? give me a break) and lots of goodbyes, you SHOULD have shown me what happened to Tom Bombadil, he was an important part of the story, and you just left his story thread there unresolved.

    You made a big deal out of the elves going to the west, but we never SAW it! We never found out what was there, or what Bilbo found when he got there, or what happened to the dwarves, or what happened to Merry and Pippin....

    You betrayed your audience by not resolving every single plot thread you introduced in your book, and as a result, it is never going to be of value to anyone, ever, and will never go past its first printing.
 
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Concordo plenamente... as unnatainable vistas de Tolkien, reconhecidas e emuladas por Joe Michael Straczynski em Babylon 5 e Walter Simonson no Thor além do próprio mencionado Tad Williams. Isso, com certeza, que tb acontece muito até no Silmarillion( paradeiro e origem de Ungoliant, o destino dos irmãos de Elwing, como Beren sobreviveu à travessia de Nan Dungortheb, o que houve com Valandil , pai de Elendil, onde foram parar Tuor e Idril e por aí vaí)

Algumas reviews comentam o problema do excesso de consistência esperado por uma audiência treinada em demasia para ver séries. (O público que contamina a indústria com o tédio e falta de imaginação de desejos pessoais), popularmente chamado de "excesso de expectativa".

Por causa desse problema Tolkien buscou evitar o perigo de viciar a audiência com respostas fáceis prontas a partir do momento em que se pode esperar da história vários tipos de experiência, em muitos níveis em que as vidas dos elementos e personagens não são vazias mas extravasam umas nas outras com conseqüências que nem sempre são explicadas (agradáveis, desagradáveis ou "neutras").

Em Game of Thrones, também existe preocupação, em menor escala que Tolkien, de se evitar ser óbvio mas o caminho do autor é diferente e passa mais por correr riscos malignos ou difíceis na melhor das hipóteses.

Enquanto que em Tolkien se criam espaços propícios para crescimento de personagens com vários futuros (positivos, regulares e negativos) em GoT ambos o ambiente e as pessoas são voltados para produção maciça de futuros negativos e pessimistas.

Por sinal com SdA estamos também diante de vidas amplas, falando de personagens com mais oportunidades balanceadas e plurais de existência (pluralidade) ou maior desenvoltura enquanto o mundo de GoT tende a ser uma máquina de matar dentro da fartura de opções que os personagens já não conseguem ver.

A própria abertura do Show de GoT, em que as cidades emergem como inserções e interpretações mecânicas do mundo, infere uma sociedade mecanicista (lesivamente hierárquica), rígida demais onde a anarquia seria muito mais desastrosa. A brutalidade é tamanha que a estrutura sutil (mas muito real) usada por Tolkien seria vista em Westeros como sendo "nada" e "vazio" uma vez que seriam opiniões provenientes de pessoas que foram brutalizadas para terem uma visão achatada das coisas. No fundo, uma série como GoT diz muito sobre o público e sobre o tempo escuro em que nós vivemos. A própria palavra luz em inglês "light" inclui ao mesmo tempo o universo semântico da visão e do peso das coisas. Light em inglês, é luz mas também é leveza. E mesmo em GoT a luz é uma luz decaída e morta como a cidadela da feitiçaria avistada por Frodo, de uma luz que não alimenta a leveza mas que nutre ambientes pesados.

Quer dizer, em se falando sobre pegar carona de vendas nos anseios de uma sociedade, o meio literário sempre é um espelho bom para refletir a visão popular do mundo por meio de especializações dos gêneros.

Martin escreve num mundo diferente de Tolkien, em que a luta pela sobrevivência é justamente contra a brutalização de si mesmo (toma o caminho do individualismo). Mas infelizmente, há até quem leia os livros ingenuamente e queira viver como os personagens que lá estão. Teve até aquele presidiário brasileiro famoso que leu não sei quantos livros quando estava na cadeia.
 
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