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Guinada à direita

Clara

Perplecta
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O colunista da Folha, Antonio Prata, publicou o texto abaixo em 03/11/2013:

Há uma década, escrevi um texto em que me definia como "meio intelectual, meio de esquerda". Não me arrependo. Era jovem e ignorante, vivia ainda enclausurado na primeira parte da célebre frase atribuída a Clemenceau, a Shaw e a Churchill, mas na verdade cunhada pelo próprio Senhor: "Um homem que não seja socialista aos 20 anos não tem coração; um homem que permaneça socialista aos 40 não tem cabeça". Agora que me aproximo dos 40, os cabelos rareiam e arejam-se as ideias, percebo que é chegado o momento de trocar as sístoles pelas sinapses.

Como todos sabem, vivemos num totalitarismo de esquerda. A rubra súcia domina o governo, as universidades, a mídia, a cúpula da CBF e a Comissão de Direitos Humanos e Minorias, na Câmara. O pensamento que se queira libertário não pode ser outra coisa, portanto, senão reacionário. E quem há de negar que é preciso reagir? Quando terroristas, gays, índios, quilombolas, vândalos, maconheiros e aborteiros tentam levar a nação para o abismo, ou os cidadãos de bem se unem, como na saudosa Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que nos salvou do comunismo e nos garantiu 20 anos de paz, ou nos preparemos para a barbárie.

Se é que a barbárie já não começou... Veja as cotas, por exemplo. Após anos dessa boquinha descolada pelos negros nas universidades, o que aconteceu? O branco encontra-se escanteado. Para todo lado que se olhe, da direção das empresas aos volantes dos SUVs, das mesas do Fasano à primeira classe dos aviões, o que encontramos? Negros ricos e despreparados caçoando da meritocracia que reinava por estes costados desde a chegada de Cabral.

Antes que me acusem de racista, digo que meu problema não é com os negros, mas com os privilégios das "minorias". Vejam os índios, por exemplo. Não fosse por eles, seríamos uma potência agrícola. O Centro-Oeste produziria soja suficiente para a China fazer tofus do tamanho da Groenlândia, encheríamos nossos cofres e financiaríamos inúmeros estádios padrão Fifa, mas, como você sabe, esses ágrafos, apoiados pelo poderosíssimo lobby dos antropólogos, transformaram toda nossa área cultivável numa enorme taba. Lá estão, agora, improdutivos e nus, catando piolho e tomando 51.

Contra o poder desmesurado dado a negros, índios, gays e mulheres (as feias, inclusive), sem falar nos ex-pobres, que agora possuem dinheiro para avacalhar, com sua ignorância, a cultura reconhecidamente letrada de nossas elites, nós, da direita, temos uma arma: o humor. A esquerda, contudo, sabe do poder libertário de uma piada de preto, de gorda, de baiano, por isso tenta nos calar com o cabresto do politicamente correto. Só não jogo a toalha e mudo de vez pro Texas por acreditar que neste espaço, pelo menos, eu ainda posso lutar contra esses absurdos.

Peço perdão aos antigos leitores, desde já, se minha nova persona não lhes agradar, mas no pé que as coisas estão é preciso não apenas ser reacionário, mas sê-lo de modo grosseiro, raivoso e estridente. Do contrário, seguiremos dominados pelo crioléu, pelas bichas, pelas feministas rançosas e por velhos intelectuais da USP, essa gentalha que, finalmente compreendi, é a culpada por sermos um dos países mais desiguais, mais injustos e violentos sobre a Terra. Me aguardem.

Teve gente que levou esse texto a sério, alguns deram os parabéns ao colunista!
Um dos primeiros foi o Roger Moreira que publicou no Twiter:

roxmo.jpg
"Que pena?" "Que pena?" !!!!:ahhh:
 
Que pena. Que pena que o autor, cheio de ironias, não sabe a diferença entre libertários e conservadores. Que pena que o autor quer reduzir a mero racismo anti-meritocrático as crítica da direita às cotas universitárias. Que pena que é mais um autor que faz uso do "monopólio da moral" pra dizer que a direita é contra as minorias. Que pena, também, que a direita brasileira é tão caricata e mal representada que dá oportunidade para um texto assim fazer sucesso.
 
E eis a resposta.

Guinada a Esquerda

Inspirado em texto de Antonio Prata hoje na Folha, também vou confessar aqui que dei uma guinada, só que à esquerda. Como todos sabem, vivemos sob o controle do neoliberalismo. Os capitalistas liberais dominam a imprensa golpista, as universidades (basta ver que só falam de Adam Smith e nunca citam Marx), a Câmara, o STF e a CBF. Para onde olhamos, só vemos liberais!

Por isso mesmo não temos um só movimento em defesa de minorias no Brasil. Ninguém seria capaz de apontar um só programa de privilégio para gays, mulheres, negros, índios ou trabalhadores rurais, que os golpistas insistem em chamar de “invasores de terra” (como se tomar latifúndios improdutivos e pequenas propriedades produtivas à força fosse invasão!).

Minha guinada à esquerda tem ligação com o fato de que ninguém agüenta mais 500 anos de direita no poder! Pedro Álvares Cabral já trazia em sua caravela a praga do capitalismo liberal. Era praticamente um Steve Jobs de seu tempo, e desde então somos explorados por esses capitalistas que só pensam em lucrar. Chega!

Passei para a esquerda quando vi que a direita não aceita nem mesmo cotas raciais. Onde já se viu? A esquerda, ao contrário, quer abolir o racismo, e sabemos que não existe forma melhor para isso do que dividir o povo em raças, e colocar brancos de um lado, negros (e pardos) do outro, concedendo vantagens para estes à custa daqueles. Só um racista pode ser contra isso. Cotas até no Congresso! Eis uma bandeira que me atraiu à esquerda.

Vejam só, a direita quer preservar até o direito de se contar piadas sobre minorias! Onde vamos parar? Passei à esquerda quando compreendi que o politicamente correto não tem nada de autoritário ou totalitário, mas se trata apenas de um controle necessário da linguagem. Em nome da diversidade, nós, da esquerda, vamos construir um mundo onde todos falam da mesma forma e pensam igual. Isso é que é diversidade boa!

Peço perdão aos antigos leitores, desde já, se minha nova persona não lhes agradar, mas no pé que as coisas estão é preciso não apenas ser esquerdista, mas sê-lo de modo grosseiro, raivoso e estridente. Meu novo guru será Emir Sader!

Do contrário, seguiremos dominados pelos capitalistas, pelos empreendedores, pelos criadores de riqueza e empregos e por velhos intelectuais liberais, essa gentalha que, finalmente compreendi, é a culpada por sermos um dos países mais desiguais, mais injustos e violentos sobre a Terra. Me aguardem.

PS: Fico feliz de migrar para a esquerda justo no momento em que Antonio Prata vai para a direita. É que não me agradaria estar no mesmo local político de alguém que é “meio intelectual, meio de esquerda”. Aqui nós só aceitamos quem é totalmente de esquerda. Viva Cuba!

Podem tacar suas pedras, mas prefiro o texto do Rodrigo Constantino.
 
Que pena. Que pena que o autor, cheio de ironias, não sabe a diferença entre libertários e conservadores.
E boa parte da esquerda também não. Propositalmente.

De todo modo, lançar um ensaio irônico e que exige mais habilidade de leitura que uma criança da 4ª série para os comentaristas de sites de jornais é pedir por pérolas. Alguém aí teve coragem de se aproximar da caixa de comentários e viu se tem algo "interessante" ?
 
Com uma esquerda dessas, quem precisa de uma direita?, já se perguntava Zizek. Esse tipo de aproximação caricata é sempre pobre... É um defeito muito mais da esquerda que da direita. Pra citar mais um autor, dessa vez Millôr Fernandes:

A diferença fundamental entre Direita e Esquerda é que a Direita acredita cegamente em tudo que lhe ensinaram, e a Esquerda acredita cegamente em tudo que ensina.

Essa falta de diálogo é complicada... Sim, existem ramos da direita que são aquilo. Mas é irônico pensar que vias de acesso pensadas pela esquerda podem entrar pela porta dos fundos também naquilo. Acho que a diferença é que a direita tende a demonizar. A esquerda gosta da ironia, mas isso não quer dizer necessariamente refinamento. Como diz David Foster Wallace, a ironia tiraniza:

Porque a ironia, embora prazerosa, tem uma função quase exclusivamente negativa. (...) Mas é particularmente inútil quando se trata de construir alguma coisa para pôr no lugar das hipocrisias que expõe.

(...)

Não há dúvida: a ironia nos tiraniza. A razão pela qual nossa persuasiva ironia cultural é ao mesmo tempo tão poderosa e tão frustrante é que é impossível saber com clareza o que quer um ironista. Toda ironia se baseia num argumento implícito: “Na verdade eu não quero dizer o que estou dizendo”. Mas então o que a ironia como norma cultural quer dizer? Que é impossível querer dizer o que se diz? Que talvez seja mesmo uma pena ser impossível, mas o que se há de fazer a esta altura? (...) Eis o caráter opressivo da ironia institucionalizada, do rebelde bem-sucedido demais: a capacidade de interditar a questão sem se reportar ao assunto é, quando exercida, tirania.

(grifo meu)
http://veja.abril.com.br/blog/todoprosa/sem-categoria/essa-ironia-que-nos-tiraniza/

Ou seja: a ironia tende a ser, muito facilmente, um caminho da simplificação barata, da caricatura e, vejam só, da demonização. É bem o que o DFW disse de forma magnífica: a ironia suspende algo, ela deixa implícito um discurso que não necessariamente quer dizer que o autor não queira dizer; pode ser simplesmente que ele não consegue -- que ele se engana. Pode ser que ele próprio esteja sendo ironizado. Quando o autor fala que "vivemos num totalitarismo de esquerda", eu me pergunto onde cabe a ironia numa frase como essas, se o totalitarismo nos moldes que conhecemos foi filho da esquerda.

Outro exemplo recente foi o com a Lola Aronovitch. Gosto muito do blog dela, tanto nas críticas feministas quanto cinematográficas, mas de vez em quando ela erra feio a mão. Resumiu, recentemente, o pensamento libertário como reacionário:

Bem tarde na noite de segunda, eu estava falando de tudo isso no Twitter quando uma moça perguntou o que era Mises, porque ela nunca tinha ouvido falar. Eu respondi: "É um instituto ultraconservador, nojentão", e passei o link pro podcast do Gentili (coisa que não vou fazer aqui, mas é facílimo encontrar no Google).

http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2013/10/reacas-se-ofendem-ao-serem-chamados-de.html

E aí eu faço questão de colocar pelo menos um texto dando uma canecada na Lola: Estude, Lola, estude -- Rodrigo da Silva. Pois mesmo que eu tenha minhas divergências com o pensamento libertário, especialmente com essa coisa do mercado livre da ação estatal (apesar de que, ao que me consta, existem vertentes e vertentes do pensamento), não acho nem um pouco correto que a Lola venha com uma dessas!

E aí basicamente eu fecho o que disse anteriormente: a esquerda adora usar uma ironia, mas será que essa ironia não tiraniza a ela própria? Qual o sentido da Lola ironizar o pensamento libertário se ficou claro que ela não conhece nada dele?

Me corrijam se estiver errado, mas não abrir diálogo é, atemporalmente, uma das características principais do reacionarismo.
 
O que me chamou a atenção mesmo foi a quantidade de gente que acredita num posicionamento “8 ou 80” do jeito que o colunista escreveu.

A menos que você tenha o sobrenome de Bolsonaro ou Gandra, não é muito sensato sair por aí falando a sério absurdos como os que o cara escreveu.
Mas teve gente que acreditou e ainda comemorou a “coragem” do homem.
É esse tipo de pensamento que me chamou a atenção: como chegamos a esse ponto, em que uma pessoa proclama tantos absurdos num meio de comunicação e muita gente considera isso seriamente?

E o Roger Moreira é um babaca que deveria se limitar a tocar guitarra com a banda dele, assim como o Tony Bellotto.
Nunca esquecerei das entrevistas cretinas que esses dois trouxas deram pra o blog do Meia Palavra.
Decepção e vergonha alheia resumem aquilo que eles falaram ali.
 
E aí eu faço questão de colocar pelo menos um texto dando uma canecada na Lola: Estude, Lola, estude -- Rodrigo da Silva.
Ótima resposta. Nada como abordar os argumentos sem apelar para muletas com as piadas tontas do Gentili, ataques pessoais e citações insanas fora do contexto, como fez a Lola.

Pois mesmo que eu tenha minhas divergências com o pensamento libertário, especialmente com essa coisa do mercado livre da ação estatal (apesar de que, ao que me consta, existem vertentes e vertentes do pensamento), não acho nem um pouco correto que a Lola venha com uma dessas!
Qualquer escola política tem suas graduações porque os extremos geralmente são perigosos demais. Eu me considero um libertário moderado porque há nuances da sociedade para os quais não consigo imaginar uma solução libertária "pura".

O que me chamou a atenção mesmo foi a quantidade de gente que acredita num posicionamento “8 ou 80” do jeito que o colunista escreveu.
Isso parece técnica de discurso, não? Às pessoas que responderam apoiando o texto irônico devemos dar um desconto (afinal, elas erraram o ponto epicamente), mas esse "ou você concorda absolutamente com minhas ideias ou você é O Inimigo" é clássico dos ensaios políticos de nível mais baixo. O texto da Lola, por exemplo, é basicamente isto e meia-dúzia de espantalhos.
 
E o Roger Moreira é um babaca que deveria se limitar a tocar guitarra com a banda dele, assim como o Tony Bellotto.
Nunca esquecerei das entrevistas cretinas que esses dois trouxas deram pra o blog do Meia Palavra.
Decepção e vergonha alheia resumem aquilo que eles falaram ali.

Roger é, além de um boçal completo, burro pra dedéu. Todo show que o idiota participa, ele faz uma pregação tipo bispo Macedo ou então arruma uma confusão com alguem mais famoso que ele. A "ressurreição" dessa múmia deu fail por conta desse comportamento invejoso, rasteiro, e anti-povo. Tá fazendo comercial de banco... vai voltar pro limbo rapidinho.

. Meu novo guru será Emir Sader!

Demorou, colega.

Forever!
 
@Clara V., entendo e concordo com você. O meu problema com o texto é sobre algo que falei nesse post, ou seja:

Eu concordo contigo, @Felagund. Realmente existe um pacote de valores (as vezes erroneamente) enraizado no conceito brasileiro de direita. E acho que não existe um esforço legímito para desfazer algumas dessas confusões.

O esforço que existe é para reforçar a confusão. Acho, de qualquer forma, que essa troca de ofensas é algo bem lamentável. O Rodrigo Constantino, por exemplo, é um sujeito que claramente quer se firmar como voz libertária. Ao invés de escrever um livro com propostas reais de governo, o sujeito perde tempo com bobagens como "A Esquerda Caviar". O texto da Lola (sei lá quem é ela ou pq o blog dela atraiu alguma atenção) é outra baboseira, pegando alguns exemplos de pessoas preconceituosas e (talvez) auto-proclamadas libertárias.

Diz ela:

São poucos os caras de direita que batem no peito e dizem, sim, sou de direita! Pelo menos essa batalha cultural a esquerda ganhou -- ser de esquerda é ser revolucionário, é querer mudar o mundo. E ser de direita é ser um coxinha conservador.

Isso resume bem o que falei no começo do post. Se você pensar que realmente tratamos o assunto como batalha, então essa realmente é a visão atual.

Também diz que:

É quem quer submeter a liberdade individual à liberdade de mercado.

Eu não faço a menor ideia do que isso quer dizer.
 
E eis a resposta.

Guinada a Esquerda

Inspirado em texto de Antonio Prata hoje na Folha, também vou confessar aqui que dei uma guinada, só que à esquerda. Como todos sabem, vivemos sob o controle do neoliberalismo. Os capitalistas liberais dominam a imprensa golpista, as universidades (basta ver que só falam de Adam Smith e nunca citam Marx), a Câmara, o STF e a CBF. Para onde olhamos, só vemos liberais!

Por isso mesmo não temos um só movimento em defesa de minorias no Brasil. Ninguém seria capaz de apontar um só programa de privilégio para gays, mulheres, negros, índios ou trabalhadores rurais, que os golpistas insistem em chamar de “invasores de terra” (como se tomar latifúndios improdutivos e pequenas propriedades produtivas à força fosse invasão!).

Minha guinada à esquerda tem ligação com o fato de que ninguém agüenta mais 500 anos de direita no poder! Pedro Álvares Cabral já trazia em sua caravela a praga do capitalismo liberal. Era praticamente um Steve Jobs de seu tempo, e desde então somos explorados por esses capitalistas que só pensam em lucrar. Chega!

Passei para a esquerda quando vi que a direita não aceita nem mesmo cotas raciais. Onde já se viu? A esquerda, ao contrário, quer abolir o racismo, e sabemos que não existe forma melhor para isso do que dividir o povo em raças, e colocar brancos de um lado, negros (e pardos) do outro, concedendo vantagens para estes à custa daqueles. Só um racista pode ser contra isso. Cotas até no Congresso! Eis uma bandeira que me atraiu à esquerda.

Vejam só, a direita quer preservar até o direito de se contar piadas sobre minorias! Onde vamos parar? Passei à esquerda quando compreendi que o politicamente correto não tem nada de autoritário ou totalitário, mas se trata apenas de um controle necessário da linguagem. Em nome da diversidade, nós, da esquerda, vamos construir um mundo onde todos falam da mesma forma e pensam igual. Isso é que é diversidade boa!

Peço perdão aos antigos leitores, desde já, se minha nova persona não lhes agradar, mas no pé que as coisas estão é preciso não apenas ser esquerdista, mas sê-lo de modo grosseiro, raivoso e estridente. Meu novo guru será Emir Sader!

Do contrário, seguiremos dominados pelos capitalistas, pelos empreendedores, pelos criadores de riqueza e empregos e por velhos intelectuais liberais, essa gentalha que, finalmente compreendi, é a culpada por sermos um dos países mais desiguais, mais injustos e violentos sobre a Terra. Me aguardem.

PS: Fico feliz de migrar para a esquerda justo no momento em que Antonio Prata vai para a direita. É que não me agradaria estar no mesmo local político de alguém que é “meio intelectual, meio de esquerda”. Aqui nós só aceitamos quem é totalmente de esquerda. Viva Cuba!

Podem tacar suas pedras, mas prefiro o texto do Rodrigo Constantino.
Comparando os dois textos, eu diria que o Constantino conseguiu cumprir melhor o seu propósito.
Ele deixa o tom irônico muito mais evidente do que o texto do Prata.
Mas aí tem duas questões importantes a se considerar:
Primeiro, um texto que não seja meramente informativo precisa mesmo deixar tudo assim tão cristalino?
Eu acho que não...
No livro de crônicas "Para não esquecer", Clarice Lispector afirma:
Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas. O melhor ainda não foi escrito. O melhor está nas entrelinhas.
A segunda questão é político-ideológica.
Se você, de fato, se alinha a essa corrente, tente desviar da pedrada metafórica que mirei na sua cabeça!
 
Abaixo, a ironia

Domingo passado, escrevi aqui uma crônica em que satirizava o discurso mais raivoso da direita brasileira.

Muita gente não entendeu: alguns se chocaram pensando que eu de fato acreditava que o problema do país era a suposta supremacia de negros, homossexuais, feministas, índios e o "poderosíssimo lobby dos antropólogos"; outros me chocaram, cumprimentando-me pela coragem (!) de apontar os verdadeiros culpados por nosso atraso. Volto ao tema para que não haja risco algum de eu estar reforçando as ideias nefastas que tentei ridicularizar.

Uma sátira é uma caricatura. Escolhemos certos traços de uma obra e produzimos outra, exagerando tais características. Narizes aparecem desproporcionalmente grandes, orelhas podem ser maiores que a cabeça, um bigode talvez chegue até o chão. É como se puséssemos uma lupa nos defeitos do original, a fim de expô-los.

Na crônica de domingo, achei que havia carregado o bastante nas tintas retrógradas para que a sátira ficasse evidente. Descrevi um quadro que, pensava eu, só poderia ser pintado por um paranoico delirante.

No país bisonho do meu texto, José Maria Marin e o pastor Marco Feliciano eram de esquerda, os brancos estavam escanteados por negros, que ocupavam a direção das empresas, as mesas do Fasano e os assentos de primeira classe dos aviões.

O Brasil (segundo maior exportador de soja do mundo) não era, na crônica, uma potência agrícola, por culpa das reservas indígenas. No fim, me levantava contra "as bichas" e "o crioléu". O texto não estava suficientemente descolado da realidade para que todos percebessem a impossibilidade de ser literal?

Talvez, infelizmente, não: fui menos grosseiro, violento e delirante na sátira do que muitos têm sido a sério. Poucos dias antes da crônica ser publicada, um vereador afirmou em discurso que os mendigos deveriam virar "ração pra peixe".

Com esse pano de fundo, ser "apenas" racista, machista, homo e demofóbico pode não soar absurdo. Quem se chocou achou o personagem equivocado, mas plausível. Quem me cumprimentou achou minha "análise" perfeitamente coerente.

Ora, só dá para concordar com o texto se você acreditar que as cotas criaram uma elite negra e oprimiram os brancos, acabando com a "meritocracia que reinava por estes costados desde a chegada de Cabral", se achar que os 20 anos de ditadura foram "20 anos de paz" e que é legítimo e bem-vindo levantar-se contra "as bichas" e "o crioléu".

Em "Hanna e Suas Irmãs", do Woody Allen, Lee, uma das irmãs, é casada com um intelectual rabugento chamado Frederick. Lá pelas tantas, o personagem assiste a um documentário sobre Auschwitz, em que o narrador indaga "como isso foi possível?".

Frederick bufa e resmunga: "A pergunta não é essa! Do jeito que as pessoas são, a pergunta é: como não acontece mais vezes?". Esta semana, diante dos e-mails elogiosos que recebi, a fala me voltou algumas vezes à memória: "Como não acontece mais vezes?". Vontade é o que não falta, por aí -e, infelizmente, não estou sendo irônico.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2013/11/1369328-abaixo-a-ironia.shtml
 
Com esse pano de fundo, ser "apenas" racista, machista, homo e demofóbico pode não soar absurdo. Quem se chocou achou o personagem equivocado, mas plausível. Quem me cumprimentou achou minha "análise" perfeitamente coerente.

Foi isso que me "causou espécie", como diria Joaquim Barbosa. :lol:

Nem pensei naquilo que escreveram aqui sobre a imagem feita dos de direita (ou de esquerda) os reacionários etc.

Mas no fato de um texto desses ser considerado "normal", seja por quem é contra ou a favor .
 
Isso eu acho que todos aqui concordam, ou seja, que é bizarro alguém concordar que as reservas indígenas destruíram a capacidade agrícola do país ou então que graças às cotas raciais agora os negros gozam de elevado status social e o branco tornou-se o oprimido. O problema é o autor (e os leitores) acreditar que a ironia serviu para desmascarar a direita brasileira (através das mensagens de apoio que recebeu). Serviu para desmascarar pessoas preconceituosas - e ponto.
 
Não duvido, só acho bizarro. O que não torna mais fácil responder a pergunta: Como tolerar os intolerantes?
 
O que tem nesse link?
Não funciona pra mim. =/
Eu queria achar o link pra um simpósio que aconteceu esse ano aqui no RJ, no Círculo Militar, sobre esse tema, mas não encontrei...
Muitos dos generais que eu conheci enquanto fui militar estavam presentes como, digamos assim, "atrações principais".
Eles defendem abertamente que a questão das demarcações das terras indígenas é um sério obstáculo ao desenvolvimento e à soberania nacional.
Segundo esses "coisas", a Amazônia deveria ser dividida em dois tipos de espaços: pastos e hidroelétricas.
Os índios, nesse caso, deveriam vir pras cidades trabalhar em subempregos.
Já os militantes ambientalistas e defensores dos direitos das minorias são considerados terroristas que merecem tortura e pena de morte!
 

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